28.4.05

Gerês





 Marius70 estaca por momentos a sua montada. A imponência e a beleza da paisagem não têm paralelo no País. Num declive mais ou menos abrupto ou suave sobre os cursos de água que a atravessam encontra-se uma vasta área montanhosa englobando o Parque Nacional da Peneda-Gerês.




  Os mais notáveis vestígios, de uma vegetação arbórea espontânea seriam originalmente dominadas por carvalhais (Quercus), ainda é possível encontrar-se na Mata da Albergaria, Mata do Cabril, Mata do Beredo e Mata do Ramiscal, o carvalho alvarinho (Quercus robur), a gilbardeira (Ruscus lusitanica), o medronheiro (Arbustus unedo) e o azereiro (Prunus lusitanica), entre outros. Muitas outras plantas, algumas só possíveis existirem neste recanto (endemismos), dão ao conjunto a riqueza que tanto a notabiliza, quer em relação à variedade da flora, quer quanto à abundância com que cobre algumas áreas densamente revestidas entre os quais se destacam algumas espécies autóctones como o feto-do-Gerês, o lírio-do-Gerês e o hipericão-do-Gerês.

 A fauna que a acompanha, moldada pelas condições meteorológicas, está representada por diversas espécies, entre os quais o corço (Capreolus capreolus), texugo e gato-bravo (Felis silvestris), lobo (Canis lupus) e raposas, javalis, o fuinha, o musaranho-dos-dentes-vermelhos (Sorex granarius), a marta (Martes martes) e o esquilo (Sciurus vulgaris). Pelas montarias do Soajo, que se dedicavam principalmente à caça, foram extintos os ursos e posteriormente as cabras selvagens. Beneficiaram durante séculos de privilégios especiais como a de «quando correm monte por si, dão a el-rei as espáduas dos porcos monteses grandes que matam e, se matam urso, dão a el-rei as mãos». E assim se extinguiram...

  Garranos selvagens vivem ainda em liberdade e à passagem de Marius70, relincham num misto de saudação para com o seu cavalo que, de cabeça levantada, passa por meio daquele bosque de carvalho-negral (Quercus pyrenaica), pelo mirtilho (Vaccinium myrtillus), o azevinho (Ilex aquifolium), o vidoeiro (Betula celtibérica e Bétula pubescens), o teixo (Taxus baccata) e o pinheiro.

  O milhafre-real, a águia-de-asa-redonda, o falcão, o bufo-real, a coruja-do-mato e o mocho-de-orelhas-pequenas. Da águia-real, que dantes voavam alterneiras, nada mais restam que raros pequenos ninhos.

  Construções românicas, marcos milenários, ainda se podem ver, assim como habitações que são colmeias cobertas com colmo, como protecção contra os rigores do Inverno ou abrigos de pastor, de pedra solta, exemplos de arquitectura regional típica.
  A orientação do relevo, de natureza granítica, favorece uma grande queda fluviométrica. De entre os rios que atravessam o Parque, o Cávado, o Lima e o Homem (que nasce na serra do Gerês) são os mais importantes pelo seu tamanho. No entanto, são também de referir os rios Vez, Laboreiro, Gerês e Rabagão.


  Tudo isto se apresenta aos olhos de Marius70, que atravessando este parque considerado um dos mais notáveis da Europa sente que se não se tomarem atitudes perante as alterações constantes provocadas pelas construções das barragens, pelos fogos e queimadas , pelo corte do carvalho-negral e pela poluição não demorará muito que mais uma vez pela mão do Homem um pedaço do paraíso se perca, e não mais se ouvirão aquelas vozes cristalinas que junto aos rios, lavavam e batiam nas pedras a roupa branca num voltar ao passado sempre presente. Tu és o povo que lavas no rio, que talhas com o teu machado as tábuas do meu caixão...



24.4.05

Rumo ao Gerês



 Depois de uma noite bem dormida, Marius70 apercebe-se de um linguarejar diferente do que estava habituado. O falares do Alto Minho é variante do português setentrional, com características galegas.

 «Im piquiena casa, se come munto se o haubéi» ou ainda «Casa quiero canta caiba e binho canto bieba e tierras cantas bieja»., são provérbios que Marius tem dificuldade em compreender pois perdem-se no tempo as raízes destes falares.
O seu cavalo, impaciente, bate com os cascos no chão Está pronto para partir.

 Cerros altaneiros, apresentam-se agora ao olhar deste cavaleiro que nota o casario irregular das aldeias amorenadas, penedias onde a giesta é rainha, pintando de amarelo, os horizontes vastos. Vai rumo ao Gerês.

  As trutas têm no Coura o seu rio de desova, e o vale é um deslumbramento. A caminho de Arcos o rio Vez torna as planuras férteis, viçosos os lameiros e verdejantes os montados, corridos por centos de córregos e de ribeiros. Marius desmonta e do miradouro do alto do monte do Castelo, contempla aquele deslumbrante cenário, onde a paisagem é, a um tempo, vigorosa e subtilmente doce, mas sempre intensa de pitoresco, pintada de cores e inundada de luz. É assim o Minho.

 Na encosta da serra brava, do lado nascente, corre o rio Lima. Vários espigueiros sobressaem num campo comunitário da povoação do Soajo. Povoação milenária, cuja fundação terá ocorrido no século I.



  Chegara em dia de feira iria aproveitar e experimentar a gastronomia típica da região, um cozido à Minhota. Continuaria no dia seguinte a viagem rumo ao Gerês.


20.4.05

Minho



rio minho


 O verde estendia-se perante os seus olhos. Campos sinuosos bordejados por latadas, onde aos renques de árvores se enrolam nos troncos, por vezes, a vinha de enforcado.

  Na ramagem das árvores, pássaros emitiam chamamentos para o acasalamento.
Um ar húmido entra-lhe nas narinas trazendo os cheiros dos campos alongados acompanhando as curvas do ribeiro. Por momentos pára a sua montada e perde-se na contemplação daquele vale verdejante. Estava no Minho.

  Ao longe, um cão guarda o seu rebanho contra o ataque dos lobos,


  O gado apascenta junto às ruínas de uma velha fortaleza onde os meus antepassados romanos tinham estado. Cavalgando lentamente revejo os monumentos megalíticos evocando um passado muito longínquo. «Aldeias fantasmas» aparecem no meu caminho, que não são mais do que palhoças com paredes de pedra solta e tecto de colmo, habitadas quando os rigores do Inverno desaparecem. O gado fica no andar térreo (cujo calor aquece a casa) e um piso (cozinha e quartos) é destinado a habitação.

  As batelas, pequenas embarcações, são utilizadas para trabalho nas pesqueiras e açudes das azenhas, na pesca com espinhel (pequenos anzóis presos à mesma linha).


  Acompanho o rio Minho em direcção ao mar. À minha frente uma enorme pradaria cercada de azul, a ilha da Boega, enorme tapete verde, e, junto ao cotovelo de Mate, a ilha dos Amores.

 Por fim Marius70 desce do seu cavalo, entra numa pousada e delicia-se com uma cabidela de lampreia acompanhada com um verde da região.

19.4.05

Rumo ao Sul



  O sol desponta em toda a sua plenitude. Depois da tempestade tudo volta à normalidade. Pequenos bandos de pássaros voam procurando insectos que aparecem sempre depois de uma trovoada.

gaivotas

  Lá longe ficou o caos, o vazio. Nada mais será como dantes.
Pelas aldeias que vai passando, braços vão acenando num misto de surpresa e de alegria.

romano


  Nunca tinham visto tal personagem por aquelas bandas.

  Marius70 olha e vê uma casquinha de noz, simples, modesta, mas com vida. Por momentos pensa seguir caminho mas algo lhe diz para permanecer por uns tempos. Desmonta do seu cavalo e, por breves instantes, passa o seu olhar por aquele mercado.

  Encaminha-se para o estábulo, retira a sela ao seu cavalo, companheiro de muitas aventuras, escova-lhe o pelo, deixa-lhe água e comida abundante. Sai e dirige-se para a multidão que lhe vai fazer, a partir de agora, companhia!



 A feira estava animada. Aqui e ali cruzavam-se pessoas que iam no intuito, umas de comprar gado, outras cerâmicas, outras ainda couves, alhos, e cebolas, num misto de cheiros e de cor. Burros, automóveis, camionetas, uma confusão só possível numa feira estritamente de carácter popular. Ao ver aquela panóplia de pessoas e animais Marius70 faz um regresso ao passado sempre presente. O amor à nossa terra, aos nossos costumes e à nossa gente.