23.5.05

Por terras do Bouro



 Marius deixara a Serra Amarela para trás. O dia mostrava um céu de um azul de cortar a respiração. Bandos de pássaros sulcavam-no, procurando material para fazer os seus ninhos e com os seus trinados convidativos , tentar aliciar alguma fêmea que perto passasse a fim de perpetuar a espécie. O chamamento da Primavera.

 Iria até Soutelo, nesta sua caminhada, visitar o Santuário do Alívio que, segundo a tradição, dever-se-ia a um padre, de nome Francisco Fráguas, a quem a Virgem teria aparecido e curado de uma doença grave. Este, maravilhado, retomou a construção do santuário dando-lhe outra dimensão, porém o povo dá uma interpretação diferente. Um dia, um trabalhador sentou-se naquilo que pensou ser um tronco. Afinal o tronco «mexeu-se»: era uma grande cobra! Aflito o homem pediu aos céus alívio e prometeu que erigiria uma grande igreja, dedicada à Virgem caso se livrasse daquele apuro. Certo é que os céus ouviram as suas preces e a cobra ainda se conserva nas dependências do santuário... embalsamada.



 Bouro uma velha freguesia, recebeu enormes benesses do rei D. Afonso Henriques, tendo em Santa Maria do Bouro, no seu mosteiro beneditino, uma estátua de pedra do nosso primeiro rei enquanto príncipe. O rio Nava com excelentes trutas , desce numa impressionante cachoeira, saltitando no seu leito, onde desenha figuras de curiosas formas.

 Gastronomia: Cozido (couves com feijão); Cabritinho da Serra do Gerês no forno e Caldeirada de Cabra.

 Em Godinhaços reza a lenda que numa antiga fortaleza – a Torre de S. Mamede – uma princesa moura teria vivido em reclusão e, após a morte do rei seu reclusor, teria passado a vaguear pelos montes que rodeavam a torre. No rio Neiva seria muitas vezes vista a dessedentar-se ou a banhar-se em noites de lua cheia – só podia ser!


 Caldelas outro ponto de passagem, onde existem as termas mais conhecidas do Norte de Portugal, com águas bicarbonatadas cálcicas, silicatadas, muito radioactivas, aconselhadas às enterocolites, ao reumatismo e às doenças da pele.


 Já conhecida nos tempos dos romanos Caldelas deve a exploração das suas águas pelos meados do século XVIII. Pelo que conheço dos romanos já estes deveriam saber bem, o valor daquelas águas. Depois da sua saída da Península devem ter ficado esquecidas no tempo.

 Os rios Cávado e Homem proporcionam belíssimas imagens, onde pontificam margens com vegetação exuberante.

 Vi o Cávado do Gerês e posso garantir que é uma imagem deslumbrante.



 Marius segue o seu caminho. Leva o seu cavalo a galope por aquele verde, onde as copas das árvores se tocam lá no alto dando sombra ao caminho por ele seguido.

 Passa por Prado, nas margens do Cávado, antiga vila e sede de concelho, extinto em 1955, onde existe uma povoação, Galegos, onde competentes oleiros e pintores de bonecos, executam com habilidade uma banda de música, um presépio, assobios (flautas, cucos, rouxinóis, etc.) e louça (vidrada ou não). Famosos oleiros como Rosa Ramalho, Mistério e Rosa Cota, ali nasceram aprenderam e viveram.


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