6.11.05

Trás-os-Montes - Aldeias Comunitárias



 O nordeste transmontano estende-se sob o olhar de marius. Os seus planaltos agregam comunidades rurais estruturadas a partir das unidades de povoamento aglomerado. O cultivo hortícola predomina, mas é nos cursos de água que os lameiros abundam (prados naturais) e, seguindo o olhar, os campos de cereais agrupados em dois sectores para permitirem a alternância do centeio com um ano de pousio pois a terra também se cansa.



 Continuando em terras de vida comunitária está a chegar a hora em que uma das manifestações populares se fará sentir., a «Festas dos rapazes».

 Estas Festas ocorrem ainda hoje em algumas aldeias do concelho de Bragança entre o Natal e a Epifania, reportam-nos às antigas festas solsticiais, as Bacanais. É o regresso às festas da Antiguidade Pagã. Será um dos poucos elos de ligação que resta, ao cabo de dois milénios de Cristianismo, ao ritual cíclico das festividades agrárias do Solstício do Inverno, em honra do Sol ou da Primavera e de louvor à Mãe-Natureza. A Festas dos rapazes e dos rituais de passagem: a passagem da adolescência à maturidade; ritos só para rapazes, como nas antigas sociedades secretas masculinas, nas quais os jovens, antes de nelas se iniciarem, deviam submeter-se a determinadas provas, mascarando-se em seguida e executando danças violentas para afastar a presença das mulheres. O uso da máscara veio a ser interdito pelo poder político ou religioso mas, adaptou-se às realidades e o que era pagão agora é religioso fazendo parte das celebrações cristãs da Natividade, dos santos primeiros mártires ou dos Reis Magos. O carácter sagrado que antes as festas pagãs possuíam acabaria por se transformar no profano das celebrações actuais como na Festa de S. Estêvão.

 A Igreja, como Constantino (imperador romano) o fez, tomou em conta as tradições pagãs, como acontece em Podence, e intervém com um tipo de mascarados. São os «caretos», «chocalheiros», «zangarrões» e «mascarões», que nada mais fazem, do que assustar as criancinhas e as mulheres solteiras. O único intuito é angariar esmolas para a igreja local e ao vozeio dos facanitos: «Vem aí o chocalheiro, vem aí o Diabo» os rapazes mascarados servem às mil maravilhas, os desígnios da “Santa Igreja”.

 Marius refreia a montada. Os seus olhos vêm mais um marco da presença milenária dos romanos na Hispânia. Em Gimonde, uma bela e antiga ponte românica sobre o Malasa, canal do rio Igreja, desafia o tempo com os seus arcos redondos e o grande olhal que dava passagem à água para um moinho que existira outrora. As calçadas romanas sentiram o rodado dos carros romanos e o tilintar das lanças das suas legiões.

 Segundo a tradição, por ali passou a Rainha Santa Isabel quando foi ao encontro do Rei D. Dinis. Os de Babe dizem que foi por lá que ela passou mas, por um lado ou pelo outro a Rainha tinha que passar, senão ainda hoje estaria à espera do final da discussão e o jovem rei não teria uma rainha como santa.


 Marius percorre a estrada a caminho da fronteira espanhola. Vai até Babe, a «Varanda da cidade» que conserva ainda restos da denominação romana como esta lápide funerária onde é perceptível EQVITI AL(ae) II.  Babe ficou célebre pelo tratado de Babe, realizado em 26 de Março de 1387, entre D. João I e o Duque de Lencastre onde o nosso rei obrigava o dito Duque a abdicar de quaisquer direitos que pudesse vir a ter sobre a coroa portuguesa devido ao casamento de uma filha deste inglês (D. Filipa de Lencastre) com o Rei.






 Rio de Onor é um mundo à parte no ambiente bragançano. O seu dialecto leonês característico, os seus ascentrais usos e costumes, a sua igreja com curiosa fachada central e coberta de folhas de xisto e a coexistência entre Rio de Onor de Baixo em Portugal e Rio de Onor de Cima em Espanha é o suficiente para nos lembrar que as fronteiras só existem no mapa e não entre povos que se querem bem.

1 comentário:

Anónimo disse...

Olá marius já que aqui estou queria apenas referir que Babe, Babi nas inquirições, tiradas pelo ano de 1258, quer dizer em árabe "portinha", mas porta, também pode derivar de Babon. Por sua vez, Babius, foi nome de poeta romano, donde também podia provir Babe. Já sob o ponto de vista militar, Babe é realmente uma portinha, relativamente ao lado de Bragança, enquanto pelo lado de Miranda, Babe apresenta fácil entrada ao invasor. O toponímio Babão é frequente, enquanto Babilon é apelido de uma família portuguesa do séc. XIII. Deste modo, não é fácil dizer qual a origem do nome, embora não custe acreditar na origem romana do seu topónimo. Um abraço. Enviado por dojaya em novembro 6, 2005 09:31 AM

Ver os caretos ao vivo é entrar num clima de mágia que nos deixa de boca aberta.O Domingo Gordo e a terça-feira de Carnaval, são os dias das folias dos Caretos. Nos dias em que os caretos saem à rua, as meninas solteiras ficam em casa a vê-los pela janela. Por isso eles trepam pelas varandas acima, para ir ter com elas e fazer muito barulho, mexendo a cintura para lhes bater com os chocalhos!:)) Outras das suas vítimas são os donos das adegas. Quando são apanhados, pegam-lhes ao colo e obrigam-nos a abrir as pipas de vinho para os caretos beberem.(Parvos eles não são)Sabias que as crianças do sexo masculino são os "facanitos"? Andam também com as vestimentas dos mais velhos a tentar imitá-los. Fica bem! Enviado por dojaya em novembro 6, 2005 09:44 AM

No dia de S. Martinho, na aldeia de Moimenta e arredores, costumava-se fazer o Magusto no dia 11 de Novembro. Fazia-se uma grande fogueira no centro da aldeia, toda a população colaborava, uns traziam o vinho, outros as castanhas, jeropiga, carne de porco, fruta, enfim tudo o que a terra dava, assavam as castanhas a carne e comemoravam todos em conjunto. Durante o magusto comiam-se as castanhas e fazia-se uma festa, com os tocadores da aldeia. Como sabem nesses tempos havia de tudo nas aldeias. Hoje em dia estas pessoas recordam com saudade os tempos de outrora, infelizmente nos tempos de hoje já se está a perder muito estas algazarras. Bem vou bater os capelins daqui que as bilhós me esperam :)) Um abraço Enviado por dojaya em novembro 11, 2005 11:49 PM

Andei meio desaparecida mas eis que estou de volta . É sempre agradável vir ler o teus posts. Nunca saímos com a sensação de vazio já que sempr estamos a aprender. Bjk e boa semana Enviado por bitu em novembro 14, 2005 10:02 AM

Hola, eo so do Madrid, meu marido é de Chacim (Tras-os-montes). Penso que tu blog é muito interesante e podes ajudar-me. Eo preciso el texto de una cantiga que começa assim (mais o menos) : "Eo so de Trasosmontes, de trasosmontes tierra bravia no vale la pena chorar porque mais pronto he de voltar..." ¿Alguém a conhoce.? Eo a preciso para um trabalho do meu filho. É muito urgente Obrigado Perdoar meu português Raquel Enviado por Raquel em maio 27, 2006 01:56 PM

"Marius percorre a estrada a caminho da fronteira espanhola. Vai até Babe, a «Varanda da cidade»...Ai Babe ... terra minha!!! Parabéns!!! Enviado por Mitas em fevereiro 11, 2007 12:19 AM