31.5.05

Barcelos



“Barcelos verde rincão
Terra lusa, nobre gente
Onde um galo morto cantou
Para salvar um inocente."


Podemos ler estes versos em toalhas de cunho regionalista.

 Barcelos é a terra do galo. A história do seu aparecimento, tem um documento iconográfico excepcional: o cruzeiro quatrocentista que está no Museu Arqueológico. Segundo a lenda, os habitantes de uma aldeia andavam alarmados com um crime que lá acontecera e que ainda não se encontrara culpado. Um galego, em cumprimento a uma promessa a Sant’Iago, passou por lá e sem saber como, foi preso e condenado à forca. Proclamou a sua inocência, mas o juiz fez–se surdo. Desesperado, apontou para um galo assado que ali estava e disse: «É tão certo eu estar inocente como esse galo cantar quando me enforcarem.» Como pelos vistos ninguém comeu o galo, no dia seguinte quando o iam enforcar, o galo ergueu-se e cantou. O juiz aflito correu à forca que nem marius, e conseguiu evitar a morte do inocente galego.

 Anos mais tarde este galego, erigia um monumento em honra à Virgem, a Sant’Iago e ao galo salvador.






 O famoso cruzeiro da Lenda do Galo datado do Séc. XIV, é proveniente da Forca Velha, instalada em Barcelinhos.










  Concelho cortado em dois pelo rio Cávado, de solo granítico, mas também com grandes reservas de barros e caulinos, é Barcelos um concelho etnograficamente rico, sendo diversas as suas actividades artesanais. Olaria, cerâmica, alcofas de palha, bordados e rendas, calçado de madeira, chapéus de palha, croças (vestuário de junco), carros de bois e respectivos acessórios, e outros produtos que semanalmente, às quintas-feiras, enchem o Campo da Feira, situada no centro da cidade.

 






O esbelto galo de Barcelos, com a sua crista de um vermelho sanguíneo e o corpo negro, a plumagem escondida atrás de corações vermelhos e missangas de múltiplas cores.









 Nos dias 2 e 3 de Maio celebram-se as famosas Festas das Cruzes, cuja principal atracção é a Feira Grande, as lavradeiras de Barcelos exibem o velho traje antigo guardado no fundo da arca.

  A Igreja das Cruzes (de arquitectura barroca de planta octogonal), onde se guarda a imagem do Senhor da Cruz, é atapetada por milhões de pétalas. A festa remonta a 1504, data que segundo a tradição, apareceram as primeiras cruzes desenhadas no chão.

  A Festa das Cruzes de Barcelos, vai assinalar os cinco séculos do "Milagre das Cruzes". A sua origem remonta ao início do século XVI. Decorria o ano de 1504, sob o reinado de D. Manuel I, quando, numa sexta-feira, dia 20 de Dezembro, de manhã, o sapateiro João Pires, regressando da missa da Ermida do Salvador, ao passar no campo da feira, observou na terra uma cruz de cor preta.

  Como não quis guardar só para si aquilo que considerou ser um sinal sagrado, alertou o povo que depressa acorreu ao local.

  A cruz apareceu sob a forma de uma nódoa negra que ia crescendo até se tornar uma cruz perfeita, em que a cor não ficava só à superfície, mas penetrava em profundidade na terra - "por mais que se cave sempre se acha", segundo a lenda. Deste "episódio", recordando a "Cruz do Senhor Jesus", nasceu a devoção ao Senhor da Cruz, tendo, logo de seguida, sido erguido um cruzeiro em pedra, depois uma ermida e, dois séculos mais tarde, o templo que é hoje o centro das festas.

  Até ao século XIX, as festas tinham um cariz essencialmente religioso, com a participação de milhares de romeiros, não só de Barcelos, mas de todo o país e da vizinha Galiza. O dia 1 de Maio é mesmo considerado em Barcelos o "Dia de Espanha", tal a afluência de visitantes galegos.



  Danças recolhidas no concelho: lima de Goios, lima de negreiro, ciranda, sapatinho e vareira fazem parte do reportório dos ranchos folclóricos, principalmente do de Barcelinhos.



  Da doçaria regional, sobressaem as laranjas doces (recheadas com chila) e as queijadinhas (mistura de doce de ovos com amêndoa).

  Marius aproveitou o facto de estar nas festas anuais de Barcelos, para rever velhos locais seus conhecidos e provar o bom vinho branco da região.

23.5.05

Por terras do Bouro



 Marius deixara a Serra Amarela para trás. O dia mostrava um céu de um azul de cortar a respiração. Bandos de pássaros sulcavam-no, procurando material para fazer os seus ninhos e com os seus trinados convidativos , tentar aliciar alguma fêmea que perto passasse a fim de perpetuar a espécie. O chamamento da Primavera.

 Iria até Soutelo, nesta sua caminhada, visitar o Santuário do Alívio que, segundo a tradição, dever-se-ia a um padre, de nome Francisco Fráguas, a quem a Virgem teria aparecido e curado de uma doença grave. Este, maravilhado, retomou a construção do santuário dando-lhe outra dimensão, porém o povo dá uma interpretação diferente. Um dia, um trabalhador sentou-se naquilo que pensou ser um tronco. Afinal o tronco «mexeu-se»: era uma grande cobra! Aflito o homem pediu aos céus alívio e prometeu que erigiria uma grande igreja, dedicada à Virgem caso se livrasse daquele apuro. Certo é que os céus ouviram as suas preces e a cobra ainda se conserva nas dependências do santuário... embalsamada.



 Bouro uma velha freguesia, recebeu enormes benesses do rei D. Afonso Henriques, tendo em Santa Maria do Bouro, no seu mosteiro beneditino, uma estátua de pedra do nosso primeiro rei enquanto príncipe. O rio Nava com excelentes trutas , desce numa impressionante cachoeira, saltitando no seu leito, onde desenha figuras de curiosas formas.

 Gastronomia: Cozido (couves com feijão); Cabritinho da Serra do Gerês no forno e Caldeirada de Cabra.

 Em Godinhaços reza a lenda que numa antiga fortaleza – a Torre de S. Mamede – uma princesa moura teria vivido em reclusão e, após a morte do rei seu reclusor, teria passado a vaguear pelos montes que rodeavam a torre. No rio Neiva seria muitas vezes vista a dessedentar-se ou a banhar-se em noites de lua cheia – só podia ser!


 Caldelas outro ponto de passagem, onde existem as termas mais conhecidas do Norte de Portugal, com águas bicarbonatadas cálcicas, silicatadas, muito radioactivas, aconselhadas às enterocolites, ao reumatismo e às doenças da pele.


 Já conhecida nos tempos dos romanos Caldelas deve a exploração das suas águas pelos meados do século XVIII. Pelo que conheço dos romanos já estes deveriam saber bem, o valor daquelas águas. Depois da sua saída da Península devem ter ficado esquecidas no tempo.

 Os rios Cávado e Homem proporcionam belíssimas imagens, onde pontificam margens com vegetação exuberante.

 Vi o Cávado do Gerês e posso garantir que é uma imagem deslumbrante.



 Marius segue o seu caminho. Leva o seu cavalo a galope por aquele verde, onde as copas das árvores se tocam lá no alto dando sombra ao caminho por ele seguido.

 Passa por Prado, nas margens do Cávado, antiga vila e sede de concelho, extinto em 1955, onde existe uma povoação, Galegos, onde competentes oleiros e pintores de bonecos, executam com habilidade uma banda de música, um presépio, assobios (flautas, cucos, rouxinóis, etc.) e louça (vidrada ou não). Famosos oleiros como Rosa Ramalho, Mistério e Rosa Cota, ali nasceram aprenderam e viveram.


14.5.05

Ponte da Barca



  Chega de descanso. Marius tinha-se deixado ficar por uns dias nesta linda terra, Viana do Castelo.

  Há que partir, rumo a outros encantos. Mas antes de partir para outras paragens marius faz uma homenagem a um grupo folclórico de grandes tradições no panorama musical português, o Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo, que é desde 1940, um dos mais representativos do Alto Minho e um dos melhores embaixadores da Cultura Popular Portuguesa além fronteiras. Longa vida para este Grupo.



  Embora com um rumo definido sabe bem partir ao sabor do vento. Aqui e ali, nos campos, espantalhos tentam com a sua presença espantar os pássaros, mas como diz o povo o primeiro bago é sempre para os pardais.

  Vai a Ponte da Barca. Da última vez que ali estivera estava a ser calcetada a zona fronteiriça da Igreja Matriz.



  Ponte da Barca, em pleno coração do Alto Minho deve o seu topónimo à "barca" que fazia a ligação entre as duas margens, e é a "ponte" construída em meados do séc. XV que lhe vai dar o nome de S. João de Ponte da Barca (1450).

  Da sua gastronomia há que realçar o arroz de cabidela e a sopa de leite. Quem lá for não pode esquecer de ir ao Jardim dos Poetas, um sítio onde alguns dos monumentos se harmonizam perfeitamente com o rio, tornando-se um bom local para descanso.

  Em Lindoso, marius visita o Castelo Afonsino (classificado monumento nacional), reconstruído por D. Dinis, em 1278, com baluartes e torre de menagem, alterado na época da Restauração,



junto ao qual se levantam mais de 50 espigueiros, dos séculos XVIII e XIX, o maior aglomerado existente no país, e a barragem do Lindoso.



  Na Serra Amarela pode-se encontrar o coelho, a perdiz e o javali.

  Deixemos as espécies no seu habitat natural, já basta de as extinguirmos tal como o homem fez com o urso e cabra selvagem do Gerês.

  Barcelos será a próxima etapa.

10.5.05

Viana Do Castelo



  Um relinchar desperta-o para a realidade. Em frente estava o seu companheiro de viagem . Muitos caminhos percorridos e, ali estava ele, sempre fiel, sempre amigo, ao contrário de muitos que se afastaram quando Marius mais necessitava deles. Bem!... Vá lá companheiro, vamos até Viana!

  Ouve-se o toc, toc dos cascos, no empedrado daquela velha ponte romana que tantas recordações trouxeram. Por baixo, o rio Lima bonançoso, corria em direcção ao mar. Barcos e barquinhas do Lima tinham navegado nessas águas quando o embarcadouro se fazia perto da Capela da Senhora da Guia.

  No lugar de Crasto era tradição representar “A Turquia”, uma peça de teatro que era representada por ocasião da Festa do Senhor da Cruz de Pedra, no segundo Domingo de Agosto.



  Esta peça simbolizava as guerras que existiram, principalmente no sul do país, entre Cristãos e Mouros. Esta peça é composta por doze personagens de cada lado: um rei, um capitão, um porta-bandeira, um espião, um embaixador e os restantes são soldados.

  Os "Cristãos" vêm de cima, do lado da Ribeira e os "Turcos" vêm de baixo, do lado de Ponte de Lima.

  A bandeira dos "Cristãos" tem uma cruz e a dos "Turcos" tem uma lua com a forma de quarto minguante e uma estrela.

  Há um primeiro combate na estrada e depois há outro no Largo da Devesa em frente à capela. Os combates são de um contra um e os "Cristãos" vão ganhando. Os "Turcos" acabam por perder e rendem-se ao "Rei Cristão".

  Por fim aparecem um anjo e um padre que vão baptizar os "Turcos".»

  Mas deixemos Ponte de Lima.

  Bandos de gaivotas assinalavam a proximidade do mar.

  Eis Viana do Castelo.



  Marius chegara por fim à princesa do Lima. A cidade debruça-se sobre o rio Lima e encosta-se à colina de Santa Luzia. Lá está também o mar a oferecer poentes admiráveis de cor e longes carregados de azul. Bem como o vale, aberto, escancarado, coalhado de verdes, a rasgar o nascente.

  Cidade quase plana, Viana estende-se entre o mar e o rio, recortada por ruas mais ou menos geométricas, cruzadas por vielas estreitas, praças e largos, de um pitoresco e tipicismo inconfundíveis.

  D. Sebastião chamou a esta terra de «notável». Um povo que se ofereceu com coragem, com fé e com alma à gesta dos Descobrimentos e a todas as campanhas de afirmação da Pátria.

  Cidade já habitada nos tempos imemoriais, havendo testemunhos arqueológicos do tempo do paleolítico, neolíticas e megalíticas. Sobranceira à cidade, estão as ruínas da Citânia de Santa Luzia.









  O traje vianense é sobejamente conhecido e é considerado o mais belo que se conhece em Portugal. Na Romaria da Nª Sª da Agonia é vê-los na Festa do Traje, um grandioso espectáculo-desfile com mais de mil intervenientes, apenas das freguesias do concelho.









  São igualmente muito conhecidos os bordados de Viana do Castelo.


Toalha de mesa


  São interessantes os lenços de namorados, contendo dizeres em frases simples que exprimem o amor de quem oferece.








  A Basílica aqui representada (Basílica de Santa Luzia) foi construída no início do século XX copiada do Sacré Couer de Monmartre, em Paris, o templo-monumento, desenhado pelo arquitecto Ventura Terra, de inspiração romântica e bizantina, situa-se no monte de Santa Luzia. É o miradouro mais deslumbrante do Alto Minho, dali se pode observar sobre o estuário do rio Lima, a cidade e o mar.
  Do topo da igreja, da sua pequena varanda, em dias limpos, vê-se até Ponte de Lima, para o interior, a minha terra, Póvoa de Varzim, para sul, e o monte de Santa Tecla já em Espanha, para norte.







 Junto à Basílica encontra-se a Citânia de Santa Luzia, a primitiva cidade de Viana.



  Com Amor e com carinho, Portugal no seu caminho!

3.5.05

A caminho de Viana



  Para trás ficara o Parque Nacional, Marius70 segue o leito do Rio Lima.

  Enquanto o seu cavalo pisava docemente as margens do rio, vai-se lembrando das lendas desta zona: «A lenda da Cabração»; do «Galgo Preto»; dos «Três Penedos» e tantos outras, entre elas a «Mal Degolada», uma lenda de amor e ódio.

A MAL DEGOLADA

  «Em tempos muito antigos viveram nas margens do rio Lima, perto da vila de Ponte de Lima algumas famílias de mouros. Eles teimavam em lá continuar.

  Uma jovem moura muito bonita, apaixonou-se por um jovem cristão. Então começaram a namorar em segredo, porque eles não tinham a mesma religião. As famílias não aceitavam tal namoro.

  Um dia, foram dizer ao cristão apaixonado, que ela ia namorar todas as noites com outro homem, para junto da fonte. O rapaz não queria acreditar, mas ficou desconfiado. Assim, armado de um comprido punhal foi espreitá-la junto à fonte, mas escondido. Verificou que era verdade o que lhe tinham dito. Ficou cheio de ódio e quis vingar-se. De um salto, enterrou o afiado punhal no pescoço da moça, repetidas vezes. De repente, ouviu-se a voz de um velho e ele parou:

  - Desgraçado, o que fizeste ?! Acabas de matar a moça que por amor a ti, aprendeu o catecismo. Acabei agora mesmo de a baptizar, como cristã.

  O velho que falou, era um santo frade do convento. Ali vinha todas as noites, para a família dos mouros não desconfiar.


  Isto aconteceu onde hoje é a freguesia de Bertiandos. O povo chama à fonte, a "Fonte da Moura".

  Por toda a parte encontram-se antas e mamoas, citânias e castros, túmulos e ruínas, vestígios de civilizações que precederam Roma. Velhas pontes romanas ainda permanecem de pé como baluarte de uma arte que atravessou séculos de história.
  Outrora os concelhos minhotos eram percorridos pela via militar romana que cruzava o rio Lima a 23 000 passos de Tui e a 20 000 de Braga. O cruzamento da via fluvial com a estrada romana foi a razão da existência da povoação de Ponte de Lima.

«Nasci à beira do Rio Lima,
Rio saudoso, todo cristal;
Daí a angústia que me vitima,
Daí deriva todo o meu mal.

É que nas terras que tenho visto,
Por toda a parte por onde andei,
Nunca achei nada mais imprevisto,
Terra mais linda nunca encontrei.»


«António Feijó»

  Eis Ponte de Lima, o coração de todo o vale da Ribeira Lima, a porção de terra portuguesa porventura mais pitoresca e retintamente minhota. Recebeu o seu primeiro foral em 1125 por D. Teresa.

  Marius desce do cavalo que parte em desfilada exercitando os seus músculos vigorosos à procura das verdes pastagens.

  A velha ponte de traça romana estende-se sobre o seu olhar.



  Contempla aquela ponte onde muitos anos atrás se constava que ele, mais os seus colegas de escola, tinham morrido. Houve um acidente sim onde, infelizmente, isso aconteceu mas não era o grupo de Marius. Lembra-se que, quando chegou à sua terra, estavam dezenas de pessoas aguardando-os e eram só abraços e beijinhos e muitas lágrimas.

  São famosos os seus vinhos verdes e aguardentes, a sua gastronomia (arroz de sarrabulho, cozido à portuguesa, rojões, lampreia e sarapatel) e o seu artesanato (bordados, cestaria, cantaria etc,.).

  Apoteose de cor e grito de alegria conferem às festas do Alto Minho os trajes das lavradeiras e os cantares e danças.

  No meio da paisagem variegada, o vermelho, o preto, o azul ou o verde das saias, os bordados da camisa e do avental, as ramagens dos lenços, a graciosidade das algibeiras onde a palavra "amor" é promessa, as chinelinhas de verniz e o peito a vergar de ouro não dão margem para captar tanto pormenor de sedução. E os seus rostos dum moreno lindo, como o trigo bem maduro?! O sorriso cativante, a delicadeza de formas e de maneiras, o corpo modelado?!


«Francisco Pita»



  É assim o folclore do Alto Minho.