25.7.05

Por um País devastado...



 Marius caminha por um país devastado pelas chamas. O Nero de ontem incendiou uma cidade, os Neros de hoje incendeiam um país.

  Passa pelo Santuário de Porto de Ave, que data do século XVIII em Póvoa de Lanhoso, que recebeu o foral de D. Dinis e de D. Manuel I. No seu castelo viveu durante bastante tempo, a rainha D. Teresa e, segundo a tradição, foi encarcerada nele pelo seu filho D. Afonso Henriques depois da Batalha de S. Mamede. Mas este castelo tem outras histórias.

 No século XIII o alcaide-mor D. Rodrigo Gonçalves Pereira, suspeitando que a sua mulher o andava enganar, a terá mandado queimar juntamente com todos os que se encontravam lá dentro (se calhar o dito cujo não estava lá na altura… digo eu!). Em 1680 um devoto mandou as muralhas abaixo para construir um templo dedicado a Nossa Senhora do Pilar… Ai fé que tudo derrubas.



Viva Maria da Fonte
De nome tão majestoso
Em Fonte Arcada nascida
Do concelho de Lanhoso


 Marius dirige o seu cavalo entre o Cávado e o Ave em direcção a Vieira do Minho. No miradouro de Castro de Vila Seca contempla a vila e vai até à gruta do Diabinho, no lugar de Cubos.

 Localiza-se em Vieira do Minho a bela serra da Cabreira tendo neste lugar nascido o célebre padre Casimiro que detonou o movimento popular da Maria da Fonte, que rebentou no Minho em Maio de 1846 contra o governo de Costa Cabral. A causa imediata da revolta foram umas questões de recrutamento, e a proibição dos enterramentos feitos dentro das igrejas, em que desempenhou um papel irrequieto e activo uma desembaraçada mulher das bandas da Póvoa de Lanhoso, conhecida pelo nome de Maria da Fonte. Mas quem foi esta Maria da Fonte? Tudo indica que se trata de Maria Angelina Simões, mulher de instintos belicistas celebrizada pela quadra acima mencionada. Mulheres do povo que fizeram história, como Brites de Almeida, a famosa Padeira de Aljubarrota.



 Vai a caminho de Ruivães através da via romana em Salamonde, que unia Braga a Chaves. Passa pelos maciços de granito em Fraga da Pena Má que é, segundo a crendice popular, um local para a cura de doenças em crianças: depois de uma reza, tira-se a camisa à criança que é atirada ao rio enquanto se canta uma oração que faz passar a doença para a camisa perdida. Se assim é… tudo bem.

 Ruivães, onde foi travada uma batalha de lutas liberais em 1837, tem vários interesses paisagísticos, como a Ponte de Misarela (na imagem) uma ponte românica, como não podia deixar de ser, sobre o rio Rabagão, que se confunde com as fragas de granito que se erguem no local, o rio Saltadouro, o famoso Caldeirão do Poço Negro e o Toco onde se albergam raposas e os lobos.

 Segundo a lenda, esta ponte foi construída pelo Diabo.

“Havia um mau homem em terras de Além Douro, a quem a justiça, encarniçadamente perseguia, por vários crimes e que sempre escapava, como conhecedor que era dos esconderijos proporcionados pela natureza. Apertado, porém, muito de perto, embrenhou-se um dia no sertão e, transviado, achou-se de repente à borda de uma ribeira torrencial, em sítio alpestre e medonho, pelo alcantilado dos penedos e pelo fragor das águas que ali se despenhavam em furiosa catadupa. Apelou o malvado para o Anjo-Mau e tanto foi invocá-lo que o Diabo lhe apareceu. “Faz-me transpor o abismo e dou-te a minha alma”, disse-lhe. O Diabo aceitou o pacto e lançou uma ponte sobre a torrente. O réprobo passou e seguiu sem olhar para trás como lhe fora exigido, mas pouco depois sentiu grande estrépito, como de muitas pedras que se derrocavam, e ninguém mais ouviu falar da improvisada ponte. Os anos volveram e, enfim, chegou a hora do passamento. Moribundo e arrependido, confessou ao sacerdote o seu pacto. Este foi ao sítio da ponte e tratou igual pacto com o Diabo. A ponte reapareceu e o sacerdote passou, mas tirando rápido, um ramo de alecrim, molhou-o na caldeirinha que levava oculta, três vezes aspergiu, fazendo o sinal da cruz e pronunciando as palavras sacramentais dos exorcismos. O mesmo foi fazê-lo que sumir-se o Demónio, deixando o ar cheio de um vapor acre e espesso, de pez e resina, de envolta com cheiro sufocante de enxofre, ficando de pé a ponte.”

 Marius segue por Rossas, conhecida pelas suas mantas, a caminho de Guimarães.

16.7.05

Zé do Telhado/ O Carvalhosa

  O lendário Zé do Telhado, de seu nome José Teixeira da Silva, nasceu em 1816 na Freguesia de Costelo de Receguinhos - Penafiel.
  A sua alcunha não lhe adveio de assaltar as casas pelo telhado ou de serem os telhados o caminho para a fuga à polícia. Ficou assim conhecido porque nasceu numa casa coberta de telhas, ao contrário das casas da vizinhança, que usavam palha.

  Este conhecido e mítico salteador, que roubava aos ricos para dar aos pobres, andou por Braga, no curso das suas aventuras, das quais se recordam as designadas por "Barbeiro Gabarola" e "Galego Sovina".
  Participou em 1846, na Revolta da Maria da Fonte (Póvoa de Lanhoso), tomado partido pelas forças populares.


O Carvalhosa

 Também conhecido por Pitoleta, é outra das figuras da região. Grangeou de grande fama devido à sua coragem, a uma rara perspicácia na resolução dos problemas que lhe surgiam.

 Algumas histórias:

 Tendo-lhe morrido uma galinha, não deixou que a mulher a enterrasse. Depenou-a e foi vendê-la, com toda a artimanha, numa casa de petiscos;

 Estava o Carvalhosa em França quando teve conhecimento das ofensas à pessoa sua mãe. Num primeiro instinto, quis fazer justiça pelas próprias mãos. Porém com toda a serenidade, pensou que o ofensor já era velhote e que era nele mal empregue uma sova. Jurou então, que lhe havia de urinar na cova no dia do enterro. Anos volvidos, com tudo aparentemente já esquecido, o sujeito faleceu e foi a enterrar. Quando no cemitério já só se encontrava o coveiro, o Carvalhosa aproximou-se e intimou-lhe que parasse por um momento pois tinha uma promessa a cumprir;

 O Carvalhosa adquirira uma vaca na feira do Pico de Regalados. Reparou que ela estava muito magra. Ao chegar a casa a mulher recusou alimentá-la. Então o Carvalhosa preparou uma bebida numa garrafa com água e sal e deu-a à vaca. Na manhã seguinte apressou-se a ir vendê-la à feira. Ao passar na confeiteira encontrou um grupo de tanques, onde a vaca sequiosa vendo a água bebeu. Bebeu tanta água que a barriga lhe cresceu.
 Chegado à feira, no meio de todo o outro gado, foi de pronto rodeado por muitos compradores. O negócio fechou-se rapidamente. A vaca, claro está, desinchou e em breve voltou ao estado lastimoso.