2.12.06

Na Vinha e no Vinho!



  Marius alonga o seu olhar para além das Serras. Um país alagado, por incúria por desleixo de quem há séculos não sabe aproveitar os recursos hídricos que a natureza nos dá, criando condições para que a água não esvazie para o mar e para que, em tempo de sequeiro, o mesmo seja atenuado.

  Hoje estende-se a mão a pedir verbas considerando calamidade pública por água a mais, amanhã estende-se a mesma mão por falta dela. Vá-se lá compreender isto.


  Marius deixa Fisgas de Ermelo para trás. A passo, o seu cavalo lusitano, envereda por caminhos escorreitos a caminho de Sabrosa. O seu podengo, podengo aqui e ali espreita os buracos à procura de coelhos que, pelos vistos, estão no remanso da sua toca preparando o espaço para uma nova ninhada que irá nascer.

  O céu carregado de nuvens escuras dá o mote para um cavalar mais rápido. A chuva tem caído dos céus e o que deveria ser uma bênção é um ai Jesus de quem vê a sua casa alagada por a ter construído nos veios freáticos ou junto à zona ribeirinha. Mas já não há cura… Será sempre assim!


  Sabrosa, antiga Soverosa, contém vestígios que datam do Neolítico, como sejam os numerosos monumentos funerários, antas ou dólmenes, de tipo mamoa. No castro quase contíguo, o Castelo dos Mouros, ou Cristelo como é hoje conhecido o Castelo da Sancha do tempo da Idade do Ferro sofreu alterações aquando a permanência dos romanos no nosso país.



 Em Sabrosa nasceu Fernão de Magalhães, como infelizmente a história que se ensina hoje aos nossos filhos já se esqueceu dos grandes vultos da nossa História, é bom relembrar que se deve a Fernão de Magalhães, os planos e execução parcial da primeira viagem de circum-navegação do planeta. Nas hoje Filipinas, foi morto Magalhães numa rixa com os indígenas, a quem pretendia converter ao cristianismo. Foi o seu piloto Elcano que acabou por fazer o resto da viagem.

  A Igreja Matriz de Sabrosa, com a sua capela-mor do séc. XVII, a Casa dos Canavarros e a dos Marinhos, o pelourinho de Gouvães e os numerosos brasões de solares e a paisagem de Covas de Moura merecem uma visita.

  Triste é que ao procurar fotos de Sabrosa para melhor a dar a conhecer encontrei do jogador Simão, que também é Sabrosa muitas, da vila de Sabrosa poucas. Vale a pena saber dar uns pontapés na bola.

  Vamos lá até Favaios provar a boa casta dos vinhos do Douro, o vinho do Porto e o Moscatel.

  Favaios é a antiga Flavius, situada num planalto a 600m de altitude, vive essencialmente da agricultura, nomeadamente da cultura vitivinícola.



  Em Favaios, aconselha-se uma visita mais demorada à Igreja Matriz, as Capelas (Santo António, São Jorge, Santa Barbara, São Paio e Senhor Jesus do Outeiro), à Casa dos Sepúlveda, à Fonte do Largo, à Casa Brasonada, ao Castro Romano, à Calçada Romana e ao morro de Santa Barbara. O seu belo chafariz e a Casa dos Távoras são ainda aqui monumentos.

 O pão caseiro ainda é o que era e com um “conduto” a condizer acompanhada de uma boa pinga de Moscatel olhando para os socalcos dos vinhedo, temos um dia bem passado.

 De Favaios vai até Alijó, onde marius já estivera depois de subir e descer serras. Será que ainda existe o secular e frondoso plátano, plantado em 1856?


Alijó, cuja etimologia teria origem na existência na zona da histórica Legião Romana Legio Spetima Gemina, outras teses indicam que o topónimo advém da palavra Ligioo, mais tarde Lijó, que pretenderia significar a natureza pedregosa do local naquela época.

 Implantada num eixo que terá servido de fronteira em permanentes mutações, dividia cristãos e árabes. Foi por estes destruída e posteriormente abandonada.

 Teve o primeiro foral em 1226. O pelourinho, as capelas do Senhor do Andor ou dos Passos; a capela de Nossa Senhora dos Prazeres, no monte da Cunha, a de Santo António, no monte do Vilarelho, os brasões da Casa de Mansillas e da Casa de Arca são conjuntos arquitectónicos de real valor e em Carlão são notáveis as pinturas rupestres de Pala Pinta.



 Em S. Mamede de Ribatua nasceu o escultor Teixeira Lopes e a laranja destes sítios é considerada a melhor de Portugal.
É aqui em S. Mamede que se pode observar o rio Tua em toda o a sua imponência, do caminho-de-ferro que o serpenteia e das serras que o circundam.

 Vai marius até Vilar de Maçada.

São Mamede t’acrescente
São Mamede te levede
São João faça bom pão
Em louvor da Virgem Maria
Padre Nosso, Ave Maria

 Assim se benze o pão feito artesanalmente em Vilar de Maçada, tal como em Favaios. Denominada inicialmente por Vilar de Nossa Senhora da Conceição, recebeu foral de D. Afonso III em 1253 e, segundo a lenda, deve o seu nome actual a um fidalgo mouro que teria salvo a vida a D. João I na batalha de Aljubarrota com o seu maço, daí… Maçada. Afinal nos mouros também havia boa gente senão a história de Portugal teria perdido o nosso rei prematuramente e não haveria a ínclita geração que tanto deu a Portugal.

 A visita à Igreja Matriz, a sede dos Correios edificada sobre as ruínas da antiga Capela de Borba e a casa da Fonte fazem o ramalhete de visitas a esta freguesia que tem como patrono o Senhor Jesus da Capelinha com festejos em princípios de Julho.

 Depois de um pão caseiro, do vinho Moscatel e de laranjas do melhor que se produz em Portugal, marius afaga o seu cavalo, alisa-lhe o pelo e com o seu podengo a saltitar à sua frente dirige-se à pousada para um repouso merecido.

15.10.06

... Nos Algarves!



Intróito

  Algarve não são só praias, a estória dos povos que demandaram a estas paragens, as suas lendas e os seus costumes serão objecto de uma escrita mais detalhada quando de novo voltar a estas paragens no seguimento do meu «Rumo ao Sul» que por enquanto permanece bem lá no norte em Fisgas de Ermelo


  Desce Marius a Serra de Monchique, depois das maravilhosas paisagens desfrutadas, a caminho de Alvor onde permanecerá por algum tempo, sendo daí o seu ponto de partida para outras viagens por terras algarvias.

  Com o terramoto de 1755 e com a supressão dos Távoras (Alvor era pertença desta família), Alvor ficou reduzida à categoria de aldeia dependente de Portimão.

  Tendo Alvor um areal bastante intenso, é na Praia dos Três Irmãos que marius desfruta o calor, a água tépida e a aventura de passar o mar para as outras praias adjacentes, seja em preia-mar ou baixa-mar.

  Ali todos os anos vê marius os filhotes das gaivotas a dar os seus primeiros bater de asas, o grasnar para serem alimentados e curiosamente assistiu a uma cena que lhe fez lembrar o filme «Os Pássaros» de Alfred Hitchcock.

  Um filhote de gaivota estava junto à praia numa saliência de uma das muitas falésias existente. Um veraneante, sem se aperceber, aproximou-se do local da cria. De repente marius ouve um grasnar violento e do alto da falésia vem em voo picado uma gaivota em direcção ao sujeito. Passa várias vezes a rasar a cabeça do mesmo e este nem se apercebia da situação. Chamou marius a atenção e, só quando a gaivota voltou de novo ao ataque é que ele percebeu a razão daquilo e só quando se afastou do local é que a gaivota voltou a sua atenção para o filhote que junto a uns tufos de ervas piava pedindo auxílio.

  Em Abicada marius pisa solo romano, as suas “caligas” passeiam onde passearam, amaram e viveram romanos. Hoje está tudo ao abandono.

  Visita a Alcalar, uma necrópole pré-histórica. Sem guia, com indicações quase sumidas, a visita só valeu por sentir que ali outros povos assentaram arraiais e faziam, como hoje, o culto aos seus entes falecidos. Para esquecer tanto desleixo à cultura dos povos que nos antecederam.


Abicada


  Segue marius até Estombar, terra de Ibn Amar e vai a Mexilhoeira de Carregação à procura das grutas de Ibn Amar nas margens do rio Arade.

  Uma placa com os dizeres sumidas e com uma pequena seta indicava a direcção. O carro feito cavalo, avança por aqueles trilhos onde só um todo terreno se pode aventurar. Fim de linha e mais nenhuma indicação. Sai e tenta saber se está no sítio certo. Uma casa arruinada é o que resta, nada nem ninguém mais… só o silêncio!

  A seu lado esquerdo o rio Arade, segue a pé e o que se vê? Uma placa no chão toda partida, incompleta. Tenta marius juntar as partes que restam e lá faz referência às grutas mas onde?!

  A lama envolve-lhe as sandálias, tenta ir pelos penhascos sem um rumo definido, esperando que a intuição faça o resto. Sente que está perto mas não estava preparado para aquele tipo de terreno.

  Volta ao ponto de partida e encontra um velho pescador que diz onde elas se encontram. Disse ele que já em tempos de menino ia para essas grutas, com uma lanterna e um baraço (ai esta expressão que marius se esqueceu e só quando meses depois voltou ao Algarve é que junto às ruínas romanas em Abicada voltou a relembrar-se desse termo) e que agora as mesmas estavam encerradas com um portão de ferro e só de vez em quando iam lá os escuteiros.

  … E assim se faz a história cultural deste País. Falha de indicações, tabuletas partidas, e grutas fechadas. Vi mais tarde o mesmo em Abicada.

  Vai marius ver as esculturas de areia em Pêra. Vale a pena ir até lá. Um trabalho fabuloso, o ano passado o tema era sobre «Os Mundos Perdidos» este ano sobre a «Mitologia».

  Sobe de novo até Monchique meses mais tarde. Vai ver a Quinta da Mina que tinha ficado pendente na visita anterior a terras algarvias. Da família Mascarenhas, dona da Quinta, restam as fotografias, os cachimbos e pouco mais. Vendida e recuperada, é um local de visita para quem gosta de ver os animais no campo e o sabor do vento, diferente do da cidade.

P. Mina


  Por baixo de marius corre o rio ao qual uma ponta fez mudar de nome, o Rio Gilão. Nascido no alto da serra, lá para o Gaborro ou para a Água dos Fusos, o Rio Séquita chegado à ponte romana em Tavira, transforma-se em Gilão e com este nome se lança ao mar.

  Cidade das 37 Igrejas com as muralhas do Castelo em bom estado e com o seu interior ajardinado, Tavira é uma cidade que pouco restou do terramoto de 1755. Lembra uma pequena Veneza com a escadaria do seu casario beijando as águas do rio. O Memorando, à entrada da velha ponte, relembra o feito dos portugueses que em 1383 se defenderam quando os vassalos de D. Beatriz lhes quiseram impor o rei de Castela… aí Valentes!

  Vai marius visitar algumas Igrejas após um «Arroz de Polvo», e junto a duas Igrejas ali ficou durante algum tempo, olhando em redor.

  Desce até ao centro e segue caminho até ao «Pêgo do Inferno» com um calor infernal. Parecendo que estava num filme do «Indiana Jones» sobe e desce por escadarias de madeira até um recanto onde vê o Inferno não o de Dante mas de muita gente balançando-se e mandando-se do espaço para as águas turvas.

  Soube bem a cervejinha fresquinha bebida naquele calor tórrido que faz lembrar que se o Algarve não é só praias naquele momento bem apetecia a marius estar mergulhado até ao pescoço na «Praia dos Três Irmãos».

Tavira



P.S. - Os meus agradecimentos ao Sr. Agostinho e família do Restaurante "A Fóia" em Alvor pela simpatia e pelas preciosas indicações sobre Monchique e o Pico da Fóia.

Restaurante «A Fóia» - Alvor


  Vai marius a caminho da vida que o espera no seu dia-a-dia, desejando que pró ano outros recantos deste país sejam visitados.

12.9.06

... Até aos Algarves



  Marius, depois de uma subida íngreme, encontra-se em frente àquilo que antigamente se chamou de castelo. Está em Aljezur.

  Um povo mede-se pelo respeito aos seus ancestrais. Os políticos, pelo que fazem para salvaguardar o património cultural desse mesmo povo. Em Aljezur isso é palavra vã. O castelo outrora octogonal, não passa de ruínas, as pedras resistentes estão a ser carcomidas pelo efeito do tempo e nada mais resta senão mato.

  Salva-se a vista magnífica que se desfruta quer sobre a planície, quer sobre a Costa.


  Vai marius até ao centro de Portimão. Muitas idas até às praias e, curiosamente, nunca tinha ido ao centro. Cidade agradável (mais tarde contarei neste meu Rumo pormenores desta e de outras terras visitadas), marius vai provar os sabores de gelados de um homem que, oriundo de Santa Maria de Feira, encontrou o seu pai pela primeira vez 47 anos passados. Vale a pena saber a história deste homem que fez de tudo profissão, até que um dia, a sua vida cruzou com a do seu pai, se não são os genes o que será, quando tudo abandonou e seguindo as pisadas do progenitor (que figura desde 1991 no Livro de Recordes do Guiness por ter criado mais de 700 sabores) criou a sua "Gelataria Coromoto", agora em Portimão, onde se pode provar tanto um gelado de sardinha como de… “Viagra”.


 Sobe marius a Serra de Monchique. Ali visita um retiro para animais em vias de extinção. Não sou contra mas se houver tantos retiros destes por esse mundo afora, não haverá dúvidas que, as espécies lá representadas, ficarão extintas no… local de origem. Quando é que se vê uma “Chita” dentro de um cercado, solitária, a olhar para o horizonte sem espaço para correr e apanhar a sua presa, predicados que a natureza lhe deu?!...


Adiante…

 Monchique. Pelas suas ruas íngremes, vai marius até ao Convento de Nossa Senhora do Desterro. Convento disse alguém, mas aquilo não é um convento é um galinheiro. Triste sina. Depois de quase lhe faltar o ar depara-lhe ruínas onde as paredes estão escoradas, onde os azulejos foram levados (inicialmente eram vendidos mas depois foi um fartar vilanagem), onde sempre que há eleições há promessas de recuperar o local mas, depois, essa vontade passa não fosse este um país adiado que, como diz o António Variações, «É p’rá amanhã». Salvaram-se as laranjas que lá marius comprou, como a provar que nos conventos é que os doces conventuais tinham razão de ser, com fruta assim!!!...

 

 Pára para um almoço retemperador em plena Serra de Monchique. A poucos metros uma figura castiça vai ganhando uns cobres colocando as turistas em cima do seu burrico.


 Vai marius até ao pico mais alto da serra, Fóia (902m). Desfrutando de uma vista esplêndida, um pastor apascenta o seu rebanho em plena comunhão com a natureza.


 Marius desce a Serra, devagarinho como levando um pouco do sol que se vai escondendo naquela cordilheira.

 Fica para um “amanhã” a continuação desta delonga de um “romano” em terras Algarvias onde há pontes romanas que mudam os nomes aos rios.

23.7.06

... Pela Costa Vicentina



 Marius segue agora em direcção à Costa Vicentina. Vai alcursar (1) terras que nunca viu, sentir a abafura (2) própria das terras Alentejanas.


 Segue a caminho de Sines. Por várias vezes perto passou e assim resolveu conhecer a terra onde Vasco da Gama nasceu.

 Visita a Ermida de Nossa Senhora das Salas, defronte ao porto de pesca. Caiada de um branco imaculado, só resta ver a fachada e andar pois, com as portas cerradas, não se pôde ver o Altar-mor em talha dourada com imagem de Nossa Senhora das Salas (século XVII), fica para uma próxima oportunidade.


 Vai até ao castelo onde as suas muralhas continuam firmes e belas desfrutando-se das suas ameias uma vista geral sobre o mar, onde o sol faz cintilar as águas como se ali estivessem miríadas de estrelas. No seu interior nada mais resta do que um terreno devastado e, uma tenda enorme ali montada para que efeito nada dizia.

 Junto ao Castelo, Vasco da Gama “olha” o mar, velhos canhões ainda ali estão, mostrando um passado de guerras. Quase não é necessário dizer que os romanos foram os primeiros a fazer de Sines um centro portuário e industrial… ah, estes romanos!


  Numa Adega típica, a “dois” passos do castelo, marius deliciou-se com umas sardinhas assadas e com um bom vinho da casa.

 Do castelo desce à marginal e demanda a Porto Côvo.

 Terra cantada por Rui Veloso que “roía” uma laranja na falésia, Porto Côvo tem nas suas casas pintadas de azul e branco o «ex-libris» daquela vila alentejana. Depois foi a desilusão. Descendo até ao mar, ali só se encontra um local abandonado, maltratado, candeeiros partidos, o que resta de uma casa, que no passado deve ter servido para algo, agora serve para os dejectos de quem quer “aliviar-se” em alturas mais aflitivas. O cheiro a fénico polui o ar, no miradouro a placa que deveria servir para explicar, a quem visita, a fauna marítima da região encontra-se partida e ilegível.

 Ao longe a Ilha do Pessegueiro.


 De volta à estrada, marius vai a caminho de V. N. Milfontes. Uma visita rápida ao castelo pois as suas ruas estreitas encontravam-se pejados de gente e carros que se dirigiam às suas praias. Será uma visita a fazer com mais tempo e fora da época estival.

 Odeceixe foi a próxima paragem. Já com um “pé” no Algarve Odeceixe tem no seu moinho o «ex-libris». Quando marius a visitou estava toda engalanada com as cores do brasão da vila e, nas paredes das casas, “quadros” com motivos marítimos.


 Depois de um breve passeio, irá mais tarde conhecer as suas praias, vai marius rumo ao Algarve onde, pela primeira vez, pisou as ruínas de uma casa romana.


1 - Alcursar - ver, alcançar com a vista;
2 - Abafura - calor abafadiço.

9.7.06

Do Norte...



 Marius70 olha desolado para o que resta da memória de um povo. De norte a sul, exceptuando alguns locais onde o património histórico está vivo, ruínas, mato, escória e até um convento que hoje é um galinheiro, são o que restam do que outrora fora locais onde homens e mulheres se amaram, crianças brincaram e braços lutaram por um ideal, por uma parcela, por uma Pátria.

 Marius segue através do Marão. Vai ver e sentir terras que nunca visitara mas sobre as quais escrevera. Estrabão fizera o mesmo, nunca tinha estado na Península Ibérica no entanto escreveu sobre ela.

 Desfiladeiros e paisagens maravilhosas estendiam-se sobre o seu olhar. Ao lado a Serra de Alvão. Em Murça vai ver a “porca” num pequeno largo ajardinado, instalada frente à Câmara, um belo edifício, e da Igreja paroquial.

 Pára em seguida em Mirandela. Marius admira aquela bela Ponte Velha, sobre o rio Tua. Passeia pelo jardim onde, à sombra das suas árvores, dava vontade de ali ficar, desfrutando o fresco do rio e o chilrear da passarada. Infelizmente o almoço não correspondeu à fama da gastronomia, outras alturas virão para apreciar o que de Mirandela tem de melhor neste aspecto, é só encontrar o local certo.


 Sai a caminho de Bragança. O tempo começa a ficar abafado, aqui e ali, em pleno Marão, caem pequenas bátegas de chuva.

 Chega finalmente ao destino que se propusera quando se lançou à estrada, ver Bragança. Vai à zona histórica, a história está ali. O castelo bem conservado de onde se desfruta uma paisagem sobre a cidade, sobre a natureza, sobre os homens que, naquele castelo, davam as “boas-vindas” àqueles que pensavam que os bragançanos eram de pouca “estaleca”, engano deles e, por certo, sentiram na pele a valentia destes homens do nordeste transmontano.


 Marius entra na Domus Municipalis. Senta-se e sente naquela pedra a história dos homens bons que ali debatiam em comunidade os destinos do povoado.


 Por momentos comunga com o passado e, ao sentir o frio daquelas paredes, lembra o calor dos tempos em que todo um povo fazia daquele local, daquelas ameias, daquela paisagem um modo de vida.

 Vai até ao centro da cidade. Uma cidade virada para o futuro sem esquecer o passado.

 Marius parte de novo para a estrada de regresso à terra que o viu nascer. Ao longe o ribombar dos trovões. Mais uns pingos de chuva a anunciarem o que estava para chegar. Já de noite, uma forte trovoada abate sobre Famalicão. Tinha chegado ao litoral a tempestade oriunda de Espanha. Como diz o povo: «De Espanha nem bom vento… »

 Marius irá continuar a viagem desta vez pela Costa Vicentina até aos Algarves onde as suas sandálias pisaram o solo outrora pisado pelos romanos…

… e, os incêndios em Portugal, já começaram a matar.

31.5.06

A Letra da Cantiga



Quero agradecer aqui, publicamente, ao Grupo Coral Brigantino pelo facto de ter atendido ao meu pedido e ter enviado a letra da cantiga que foi solicitada pela Raquel (ver o tema anterior). Para eles o meu muito Obrigado e longa vida ao Grupo.

Coral Brigantino

Boa tarde

Pedimos desculpa de só agora estar a responder, mas foi algo difícil compilar a letra pois não temos um texto já escrito pelo que foi necessário recorrer à memória dos elementos do Coral. Esperamos que ainda vá a tempo.

Tim Tim Sou de Trás-os-Montes

1. Tim tim sou de Trás-os-Montes
De Trás-os-Montes terra bravia
Num trono estou colocado
Só vejo Serras e Penadias

Refrão

Tim Tim olaré Tim Tim
Você diz que não eu digo que sim
Ao romper da bela aurora
Toda a gente canta pela estrada fora

2. Adeus que me vou embora
Se não demoro porque é que chora
Não vale a pena chorar
Que bem depresssa hei-de voltar

Refrão

3. Tim tim sou de Trás-os-Montes
De Trás-os-Montes, terra sem par
Bem cobertinha de neve
É como a noiva que se vai casar


--
Coral Brigantino
Rua Calouste Gulbenkian
(Antiga Biblioteca Infantil)
5300-020 Bragança
http://coralbrigantino.no.sapo.pt
coral.brigantino@sapo.pt


Vou já enviar para Espanha e espero bem a tempo do filho da Raquel e do nosso compatriota nascido em Chacim, fazer o trabalho para a escola e que tenha uma nota excelente graças à amabilidade deste Grupo Coral.

.........................//............................

Versão gravada pelo Grupo de Cantares de Salto, Montalegre, durante a década de 90.
Canta-se a 1º estrofe como já apresentada seguida do refrão tal qual.
As estrofes são as seguintes (e são um verdadeiro tributo à riqueza étnica-cultural destas nossas serranias):

tim tim, sou de trás-os-montes
de trás-os montes terra do norte
quando vem a trovoada,
a Deus entrego a minha sorte

tim tim, sou de trás-os-montes
de trás-os montes terra fragosa
vem o sol, vem a geada,
fio morena, bem mais formosa

tim tim, sou de trás-os-montes
de trás-os montes com o luar
bem cobertinha de neve
sou uma noiva que vai casar

tim tim, sou de trás-os-montes
só vejo serras e penedia
vindimar no Alto Douro
guardar ovelhas na Terra Fria.

  • Agradeço a colaboração de Domingos Fontoura Fernandes pela apresentação desta versão.
  • 29.5.06

    Um pedido

    Se alguém souber toda a letra desta cantiga (está num comentário de um tema atrasado do Rumo ao Sul), agradecia que a colocasse neste tema para que possa ser enviada, já pesquisei e consultei o cancioneiro transmontano mas nada encontrei.

    Obrigado desde já!

    Hola, eo so do Madrid, meu marido é de Chacim (Tras-os-montes). Penso que tu blog é muito interesante e podes ajudar-me.

    Eo preciso el texto de una cantiga que começa assim (mais o menos) :

    "Eo so de Trasosmontes,
    de trasosmontes tierra bravia
    no vale la pena chorar
    porque mais pronto he de voltar..."

    ¿Alguém a conhoce.? Eo a preciso para um trabalho do meu filho. É muito urgente

    Obrigado

    Perdoar meu português

    Raquel

    24.5.06

    Por Terras e Paisagens Transmontanas



     Marius deambula pela cidade de Vila Real. Dirige o seu cavalo para a freguesia de Panóias.

     D.Henrique dera foral a Constantim de Panóias. Outrora, tudo em volta era território de Panóias, limitado pelos seus castros e pelos rios Tua, Tinhela, Teixeira e Douro. Murça de Panóias ou Vila Real de Panóias como virá ser conhecida, teve uma posição dominante administrativamente, militar e religiosa, tendo os Romanos explorados a sul, minérios e vinhas encontrando-se ainda vestígios dessa passagem no concelho de Régua, no lugar de Covelinhas e no Castellum da Fonte do Milho.



     O Santuário de Panóias (monumento durante muitos anos designado por Fragas de Panóias) foi construído entre os finais do século II e os inícios do século III d. C. D. Dinis disse – «e esta Vila Real seja a cabeça de toda a Panóia». As acrópoles do mundo pagão seriam formadas por sete pedras-santuárias. Talhadas com várias cavidades, de diversos tamanhos, bem como escadas de acesso estas fragas serviam para sacrifícios dedicados aos deuses como se pode ler numa inscrição:

      «Geno Caio Calpurnio Rufino, varão consular, dedicou este Lago eterno, com este templo em que se queimam as vitimas, aos deuses e às deusas, e a todas as divindades, e aos Lapitas.

     Séculos mais tarde, à falta de Santuários deste tipo, outras vítimas eram queimadas em fogueiras, presas a barrotes em nome da Fé.

     Marius dirige o seu cavalo para outras paragens. Não consegue conceber que para agradar a deuses, sejam eles quais forem, seja necessário oferecer o sangue de inocentes, mas ínvios são os desígnios do Homem.

     Bisalhães

      - Conhecida pela sua olaria de barro negro, os oleiros, hoje cada vez mais raros, iam buscar o barro a Parada de Cunhos. A venda do artesanato era feita nas feiras do distrito para onde iam a pé ou de jerico. Hoje é vê-los nas encostas do Marão para turista comprar o seu produto e é devido a essa incerteza de venda que o artesanato português cada vez mais se transforma em peças «Made in… qualquer coisa.». Os jovens não se sentem atraídos e as mãos que manejavam com perícia o barro vão envelhecendo e outras mais novas não                                                     tomam o seu lugar.

      A Tuna de Bisalhães, com os seus violinos, guitarras e bandolins vão tocando de ouvido o que muitos nem de pauta o conseguem.

     Vamos cavalito hoje o teu dono está numa de sentimental.

     «Sai-se daqui munto com de noute p’ra ir à feira e a gente chega com a de noute»

     Assim diziam os habitantes de Lamas de Olo implantada no Parque Natural de Alvão, quando se deslocavam às feiras na vila para venderem os seus produtos agrícolas ou gado.



     Em Lamas de Olo não há pressas e os dias passam devagar. O recolher do gado ao fim do dia é uma das tarefas rurais, a par de muitas outras, como as malhas do centeio, do milho e do feijão, as desfolhadas e as vessadas (em que se prepara a terra para as próximas sementeiras). A matança do porco, a confecção do fumeiro e o fabrico do pão completam o dia-a-dia dos seus habitantes. As suas casas são cobertas de colmo para protecção à neve que ali cai abundantemente, onde o gado rumina por baixo e na parte de cima vive a família. Em dias de chuva, é vê-la correr pela rua nos assentos laterais juntos à pequena janela. E a vida passa bucólica tendo as mamoas e as muas do Alvão como horizonte de um povo isolado mas hospitaleiro.

    O Bispo de Vila Real e o povo de Lamas de Olo


     Um Bispo de Vila Real mostrou interesse em visitar as povoações nas montanhas de difícil acesso. Naquele tempo só a pé ou de cavalo é que se chegava lá. Naquelas aldeias havia muita gente e vivia-se muito bem com estes povos.

     Então o Bispo mandou avisar algumas pessoas de Lamas Olo que ia visitá-las um dia. O automóvel do Bispo só dava para ir até uma povoação chamada Agarês, que ficava ainda longe de Lamas de Olo. Vieram pessoas visitar o Sr. Bispo só até onde ele chegou. Estas pessoas não sabiam do que é que se tratava.

     Disseram-lhes que era um homem que trazia um gorro vermelho na cabeça e mandava nos padres. Quando o carro do Bispo chegou a Agarês, onde a estrada acabava, os habitantes de Lamas de Olo vieram com os jumentos da região.

     Vendo então um destes que saiu do automóvel um homem de gorro vermelho na cabeça, aproximou-se dele e perguntou-lhe assim:

    - Você é que é o ti Bispo?

    - Sou, sim, o Sr. Bispo.

    Então o homem disse assim para o Bispo:

    - Então salte lá para cima dessa burra, que ela arrasta tudo nem que seja o Diabo.



      Ermelo recebeu foral de D. Sancho I. O seu pelourinho e a velha Casa da Câmara é o que resta da sua posição concelhia. Ladeada pelas serras de Mesia e do Marão a vida é vincadamente transmontana mas a proximidade com Mondim de Basto traz já um pouco das influências minhotas no seu folclore. Quem quiser ir até Fisgas de Ermelo tem que ter atenção redobrada, dado tratar-se de uma zona perigosa, onde já ocorreram alguns acidentes. A região do Alvão é especialmente fria, mesmo durante a Primavera. Em alturas de mau tempo, com chuva e neve, não se deve aventurar por locais que se desconhece.

     Assim sendo e para aqueles que ”viajam” através daquilo que este escriba aqui escreve poderão fazê-lo virtualmente:

    Fisgas de Ermelo

    12.4.06

    Gastronomia - Minho



     Marius70 está a percorrer o país mostrando as suas belezas naturais, lendas e tradições. Pensando na gastronomia de cada região, vou procurar mostrar aqui o que melhor se come nos locais por onde Marius passar. Será um Portugal gastronómico, certo de que algumas ideias serão aproveitadas para serem confeccionadas, seja do Minho ao Algarve, nos Açores e na Madeira, ou por esse mundo fora, onde se fala ou vive um português. Que este meu roteiro gastronómico lhes leve os sabores de Portugal!


    Caminha Arroz ou cabidela de lampreia, sável de escabeche e frito, mariscos



    ARROZ DE LAMPREIA

    Ingredientes:

    1 Lampreia;
    2 cebolas;
    2 dl de azeite;
    1 ramo de salsa;
    1 dl de vinho branco;
    1/2 chouriço de carne;
    Sal,
    Pimenta;
    400g de arroz

     Preparação:

     Prepara-se a lampreia e corta-se em bocados e tempera-se com o vinho branco, a salsa, sal e pimenta.

     Faz-se um refogado, pouco puxado, com a cebola e o azeite. Introduz-se a lampreia neste refogado juntamente com o sangue, a salsa e o vinho que serviram para a temperar. Adiciona-se um pouco mais de pimenta e o chouriço cortado às rodelas e deixa-se refogar. Depois, retiram-se os bocados de lampreia e acrescenta-se a calda com água. Esta deve ser em quantidade que perfaça cinco a seis vezes o volume do arroz. Rectifica-se o paladar da calda, deixa-se levantar fervura e junta-se o arroz escolhido mas sem ser lavado. Depois do arroz cozido, o que leva cerca de 20 minutos, introduzem-se os bocados de lampreia e serve-se o arroz imediatamente.

    Lanhelas:Solha seca frita, torta de camarão.

    Solhas Secas à moda de Lanhelas

     (Receita de D. Deolinda Rodrigues - Lanhelas)

     Amanham-se e limpam-se as solhas. Salgam-se com bastante sal e colocam-se num recipiente de um dia para o outro (24 horas). No dia seguinte, retiram-se-lhes todo o sal e demolham-se durante duas horas, aproximadamente. Atam-se aos pares de forma a poderem ser colocadas no pau do fumeiro. Defumam-se lentamente durante dois dias.

     Como cozinhá-las:

     Cozidas: Cozem-se as solhas com batatas e cebolas, após o que se servem numa travessa, bem regadas com um bom azeite e vinagre a gosto.
    Passadas na sertã (forma mais tradicional): Põe-se a sertã com óleo ao lume e logo que esteja quente, passam-se rapidamente as solhas de um lado e de outro. Servem-se bem quentes e com bastante alho. (Esta é a tradição na Festa das Solhas, em Lanhelas).

      V. N. de Cerveira: Debulho de sável, lampreia refogada ou com arroz, tainha assada no forno, biscoitos de milho.



     Debulho de Sável

     Desde tempos remotos que o sável se pesca nas águas do Rio Minho. Em Cerveira os pescadores pescavam sável e as mulheres encarregavam-se de o vender, indo muitas das vezes de porta em porta vendê-lo ás postas. Como na maioria das vezes os compradores só queriam as postas maiores, elas ficavam com as partes mais fracas do sável que eram a cabeça, o rabo, as ovas e as postas pequenas. E, assim surgiu o saboroso Debulho de Sável.

     - O sável deve ser bem escamado e limpo. Em seguida, corta-se a cabeça e o deguladouro (posta junta à cabeça). Junto a este está o fígado ao qual se extrai o fel. Tiram-se as ovas e aproveita-se todo o sangue possível que irá servir para a calda. Cortam-se, também, o rabo e as postas mais pequenas.

     Num recipiente, coloca-se então o debulho, que é composto pela cabeça, deguladouro, o rabo, as postas mais pequenas, as ovas e o fígado. Tempera-se com sal, salsa, louro, pimenta, cravinhos e cobre-se com vinho verde tinto. Deixa-se marinar durante umas horas.

     Num tacho, pica-se uma cebola grande e deita-se um pouco de azeite, vai ao lume e logo que a cebola esteja estalada, adiciona-se um pouco de pimentão, o debulho e a respectiva calda. Cozido o peixe, retira-se para um recipiente ao lado. À calda inicial, junta-se a água necessária para cozer o arroz e uma boa colher de vinagre.

     Assim que o arroz esteja cozido, junta-se o debulho e rectificam-se os temperos.
    Deixa-se repousar uns minutos e serve-se o arroz a fugir pelo prato.

    22.3.06

    Vila Real



     Longe vai já o tempo em que marius começou esta caminhada. Foi em 11-5-2003 ao som de Overture da Ópera Guilherme Tell de Rossini. Estando prevista mais uma mudança, marius vai salvaguardando tudo para nada se perder. Infelizmente há quem pense que destruir é o melhor caminho. Se imperadores e religiões destruíram Bibliotecas inteiras porque não um sapo destruir o que nada lhe custou a fazer?!... Mas destruir aquilo que marius construiu durante este tempo só o próprio marius lhe porá cobro.

    Ó Vila Real alegre
    Província de Trás-Os-Montes
    No dia em que te não vejo
    Meus olhos são duas fontes.


    Vila Real



     Marius olha a cidade adormecida na Meia-Laranja. Já cá estivera e o calor era insuportável. Agora, mais serena, Vila Real, debruçada sobre o Rio Corgo que lhe atravessa a cidade, dominada pelas serras do Alvão e do Marão, teve em D. Dinis o verdadeiro povoador da província transmontana e alto douro, contrariando o velho ditado de que o Marão «não dá palha nem grão». Hoje, completamente florestada, nela se situando as Pousadas Nacional de S. Gonçalo e do Mesio.

     Inicialmente chamada de Vila Real de Panóias (ou Panonias), era na Baixa Idade Média, o centro de um vasto território, onde o culto aos deuses e o poderio militar, como não poderia deixar de ser, era romano.

     Saíram os romanos, vieram os árabes e Vila Real só voltou a ter importância relevante após a construção de uma muralha e de um castelo na «vila velha» sobre o promontório do Rio Corgo, mas embora bem construída não ficou pedra sobre pedra no século XIX.

     Segundo rezam as crónicas em Vila Real teria nascido Diogo Cão, descobridor de Angola, em cuja cidade de Luanda tinha uma estátua mas que os ventos revolucionários mandaram a mesma para as urtigas.

    Diogo Cão


     A bela fachada da Capela Nova, a Igreja do antigo Convento de S. Domingos, hoje Sé-Catedral, as janelas geminadas manuelinas do antigo Palácio dos Marqueses de Vila Real, o famoso Solar de Mateus (vai um Rosé?), obra magnífica de Nasoni, possuindo uma belíssima fachada cheia de pináculos, sempre reflectida num lago rectangular, e um interior repleto de preciosidades que se pode visitar, assim como os jardins românticos e deslumbrantes.

    Casa Mateus


     Marius revisita a bela frontaria dos Paços do Concelho e o Pelourinho. Vai deambulando pelos jardins e pelas paisagens magníficas sobre o rio Corgo admirando a terra lavrada dos socalcos e onde casas se confundem com a vegetação.

     Vila Real foi a primeira cidade portuguesa a ser iluminada por energia eléctrica em 1895. Outros motivos de interesse são as Pontes de Piscais, a de Santa Margarida, onde no antigamente ali as lavadeiras lavavam e punham a corar a roupa, (será que a tradição ainda é o que era?... tenho as minhas dúvidas.), a ponte de Almodena e a ponte romana (já cá faltava esta) de Torneiros.

     Camilo Castelo Branco tem uma lápide em sua homenagem na Casa dos Brocas pois este nosso escritor situa cenas de alguns dos seus romances na Torre de Quintela, em Vila Marim.

     As Tunas Populares, os Zés-Pereiras, os famosos barros de Bisalhães (o arroz no forno cozinhado nestes barros típicos é de comer e chorar por mais), a gastronomia; o cabrito assado, o fumeiro, o bacalhau à Espadeiro (companheiro de armas de D. Afonso Henriques), o bacalhau com batatas a murro, os toucinhos do céu, os covilhetes, os pitos e o sarrabulho doce fazem por certo com que o viajante não falte entre 27 a 29 de Junho à tradicional Feira de S. Pedro.

     Vou já apontar na agenda para não me esquecer.

     Ir a Vila Real, aos seus eventos desportivos, às suas feiras de artesanato, descobrir o seu património artístico, cultural e histórico é como voltar no tempo mas também saber que o futuro é já ali, e por certo que Vila Real é, sem sombras de dúvidas (embora com pequenos problemas conforme li em apontamentos feitos por quem conhece melhor aquilo do que marius), uma cidade a visitar.

     Mas, como sucedeu com marius quando lá foi, na altura do calor não se esqueça de levar uma garrafa de água bem fresquinha pois a garrafa que marius levava no alforge, depois de aberta, servia bem para cozer um ovo.


    3.3.06

    Por Pedras medicinais e relógios de sol



      Marius segue por um magnífico bosque a caminho de Pedras Salgadas. Questiona-se se vale a pena continuar esta caminhada. Começada já há muito tempo ela nunca terá fim. A procura constante dos caminhos a percorrer, o querer mostrar este Portugal de todos, as tradições, os costumes e a vivência deste povo tem os seus custos e o tempo não abunda. Um trabalho solitário. Marius nunca mais vê a velha mulemba do outro lado do Atlântico onde descansará. Querer é poder, vamos lá companheiros desta aventura, vamos continuar a jornada pois tudo vale a pena...



      Conhecida pela sua famosa água, em Pedras Salgadas veranearam os últimos reis de Portugal, especialmente D. Carlos. Como Pedras não são só as termas podemos ir até às Romanas, ver a ponte e os seus mosaicos romanos, a Bornes de Aguiar, ao Penedo Gigante, ao Alto do Minhéu, às ruínas dolméticas do Alvão, ao Castelo de Aguiar e à Padrela. No guia turístico diz que se para se ver as capelas do Senhor do Extremo e o Dolmen do Alto da Povoação tem que se ir de jeep. Espero que se não tiver jeep se possa ir de cavalo, senão… estou feito! Grande ajuda que os guias turísticos nos dão.



      Ribeira de Pena. Ali viveu e casou Camilo Castelo Branco. Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição. Com 16 anos enamorou-se, em Ribeira de Pena, de Joaquina Pereira de França com quem casou. Entre amores e desamores, até uma freira, Isabel Mourão, não escapou a este D. Juan à portuguesa. Depois, a mulher fatal, Ana Plácido.



      Ribeira de Pena teve foral em 1331. O Templo dedicado a Nossa Senhora da Guia, com um agradável miradouro, e a Igreja Paroquial de S. Salvador, mandada edificar por um emigrante que prometera ali fazer «uma igreja como outra não houvesse da Ponte de Caves para cima e da terra do Alvão para baixo», nada humilde este nosso emigrante.



      Os Solares, a rocha esculpida de Lamelas, a pedra cavalar de Viela, castros e dólmenes, os relógios de sol e a paisagem que vai do verde da vegetação até às águas calmas do rio Tâmega, sem esquecer o artesanato na povoação de Limões de tapetes e colchas de linho, fazem desta zona um roteiro de aprazível passeio para o turista que a visita.

    8.2.06

    Por vinhas e minifúndio



      Pela primeira vez marius sentira os flocos de neve. Um manto branco estendera-se pelas serras e campos. Marius sente-se maravilhado com o que a natureza mostra, a mesma que tanto nos dá a beleza como a tormenta. Natureza verdadeiro regaço da vida e da morte.

      Vamos cavalito pisar este manto, enquanto o sol não o derrete, e vamos por terras do minifúndio, da vinha e do bom azeite.

      Marius vai pela via imperial, que segue de Tinhela até ao Alto do Pópulo, atravessa a ponte romana que o leva a Murça.



      A antiga Murça de Panóias foi povoada pelos romanos (ainda gostaria de saber se por acaso os romanos olvidaram qualquer localidade, por onde marius passa sente-se a presença romana), mais tarde foi dominada pelos árabes tendo sido dado foral por D. Sancho II.

      Já na vila um monumento chama a atenção do viajante. A célebre Porca de Murça, estátua de granito fino com a provecta idade de 2000 a 2500 anos. Só que a Porca não era uma porca mas sim uma ursa que pelos vistos gerou medos e insegurança no povo que na época habitava esta região.



      As gerações presentes como nunca tinham visto um urso transformaram o mesmo numa Porca. De uma forma ou de outra não há vinho que se compare ao da Porca da Murça. Com um paladar destes antes Porca que Ursa.



      Outro monumento que desperta a atenção é o pelourinho. Instalado no jardim frente à Câmara, que foi convento de freiras beneditinas, é do tipo tabuleiro e foi construído no século XVI. O capitel termina com moldura onde, em cada uma das faces, está representada elementos heráldicos.


      Os relógios de sol, os moinhos de água, as suas fontes de mergulho, e curiosa a frontaria da Capela da Misericórdia - No eixo da frontaria, abre-se a porta que tem como função separar o sagrado do profano, a luz das trevas, o interior do exterior e, cujo significado simbólico pode ser sintetizado na inscrição latina, "QUAM TERRlBILIS EST LOCUS ES1: HIC EST DOMUS DEI ET PORTA COELI': que traduzido em Português significa, "Como é terrível este lugar: esta é a casa de Deus e a Porta do Céu" que podemos ler na cartela ao lado direito do nicho (epístola).
    Janua é a palavra latina para designar porta. É curioso haver um Deus no panteão romano chamado Janus e que é representado com duas faces voltadas em sentido contrário; é a divindade guardião das portas pois que toda a porta olha para dois lados. É, portanto, um deus de transição, de passagem tendo o dom da dupla ciência: a do passado e do futuro – a sua gastronomia, o seu vinho e o seu azeite, devido ao facto de Murça estar numa zona mista de «terra fria e «terra quente», fazem desta vila passagem obrigatória para quem demanda a terras do Douro.

      Segue marius a caminho de Vila Pouca de Aguiar, condicionada pelas serras do Alvão e da Padrela, situada no vale de Aguiar, onde nasce o Rio Corgo. Terra da célebre água das Pedras Salgadas - as águas são hipotermais, meossalainas, gasocarbónicas e silicatadas, são terapêuticamente recomendadas para diabetes, colesterol e doenças do aparelho digestivo, Vila Pouca de Aguiar deve a sua origem, por certo, aos povos de Alvão que desceram para a fértil planície.



      Do pequeno Santuário de Nossa Senhora da Conceição, no verde sopé da Padrela, pode-se desfrutar a vila e o vale até à cumeada orográfica. Catedral dos dólmens e do granito, aqui se pode apreciar a boa carne maronesa.

      Na região podem-se ver vestígios de outras eras, pegadas de histórias de outras idades, pertença dos homens. Iberos, celtas, romanos, godos e árabes, terão escolhido esta zona para habitar e explorar, as mamoas de Chãs de Arcas, Portela da Chã e Lixa do Alvão, os templos românicos, a arquitectura rústica e os «canastros», «espigueiros» ou «caniços» com os seus típicos relógios de sol.

      Marius perde-se no labirinto das várias recordações que a terra dá. Outros homens aqui estiveram, outros homens irão cá estar, nada é imutável. No futuro outros homens irão olhar para este presente e dirão: «Aqui esteve um povo que fez desta terra sua, estão aqui as suas pegadas».

    9.1.06

    Pelo Rio Tua



     Fim de tarde. O sol deita-se no ocaso. Não voltarei a ver um pôr-do-sol tão lindo como aquele que vi nesta minha caminhada. Recortado contra a serrania, lançava os últimos reflexos e, a sombra da noite, pouco a pouco, ia tomando conta das últimas réstias de luz. Obrigado pôr-do-sol pelo acompanhamento.

     Acendo o lume, do alforge tiro o calor da amizade e adormeço com ele enrolado na minha túnica.

     A manhã acorda soalheira. Preparo o cavalo e com um toque ligeiro parto à desfilada pelas encostas transmontanas.



    Belo Chacim, quero-te tanto!
    Não há para mim maior encanto.
    Tuas belezas são primores de admirar,
    Que grande glória em Chacim em ti morar!


     Segundo a lenda habitava em Chacim, no Castelo do Monte Carrascal um tirano rei mouro. Carregava com tributos as populações e as noivas (Tribuno das Donzelas) tinham que passar pelo tálamo real antes de contraírem núpcias. Um belo dia eis que os servidores do Emir lhe disseram que ia casar a mais bela jovem da aldeia (nestes casos é sempre à mais bela que acontece isto), mas pelos vistos o noivo não estava afim de entregá-la aos desejos do tirano. Quando tentam raptar a noiva eis que a revolta se estalou, daí à tareia e pancadaria de meter medo foi um passo. O povo ia perdendo terreno mas ao brado do noivo, que já estava a ver o caso mal parado, - «Aos inimigos da nossa raça irmãos», o povo ganhou novo ânimo e vai o povo à mourama. Entre mortos e feridos alguém tinha que escapar e aí surge uma formosa senhora que com um vaso de bálsamo na mão, os vai sarando. Claro que só podia ser a Mãe de Deus e, assim, após a morte do Emir, os mouros bateram em retirada e todos os anos no dia 9 de Agosto, o povo comemora a vitória com uma festa em honra da Defensora do Lar e Padroeira dos Noivos, a Divina enfermeira Senhora de Balsamão.

     Marius, como ainda está em época festiva, come lá uma rabanada de estalo não fizesse ela parte da gastronomia da região.



     Ouvem-se maças. Dois cavaleiros do passado passam à desfilada. Para onde irão eles? Vão combater os mouros. Eram tão famosos estes dois cavaleiros que com as suas fortes maças de armas desancavam nos mouros que o rei resolveu chamar ao lugar de Macedo de Cavaleiros. E assim nasceu Macedo de Cavaleiros. É gente que tem aquele ditado tão antigo que se perde na bruma do tempo: «Para cá do Marão, mandam os que cá estão». Se assim é, tudo bem!..



    «Quem Mirandela mirou, em Mirandela ficou.»

     Se por acaso fosse só pelas suas famosas alheiras não seria bem assim mas Mirandela é, de facto, uma cidade a quem o epíteto acima referido cai que nem uma luva.

     Tendo subido à categoria de cidade em 1984, tem nas lendas a derivação de Mirandela, dos olhares apaixonados que das atalaias do seu poderoso castelo sobre ela lançava o rei mouro de Lamas de Orelhão, nos poentes maravilhosos do Norte.

     Por lá andaram os romanos e foi D. Dinis quem implantou a povoação no cabeço de S. Miguel. Terra fortificada, com a sua Torre de Menagem era considerada como uma das melhores fortalezas de Trás-os Montes.

     Um fragmento do Arco de Santo António, é o que resta do castelo e até mesmo o pelourinho da vila desapareceu. Do Santuário de Nossa Senhora do Amparo vê-se uma paisagem magnífica.

     O Rio Tua oferece paisagens extraordinárias e, em Mirandela, é vê-lo garboso enquadrado pela Ponte Velha, do século XVI, de arcos e talha-mares robustos.



     Marius vai às alheiras, só em Mirandela se comem alheiras assim.