9.1.06

Pelo Rio Tua



 Fim de tarde. O sol deita-se no ocaso. Não voltarei a ver um pôr-do-sol tão lindo como aquele que vi nesta minha caminhada. Recortado contra a serrania, lançava os últimos reflexos e, a sombra da noite, pouco a pouco, ia tomando conta das últimas réstias de luz. Obrigado pôr-do-sol pelo acompanhamento.

 Acendo o lume, do alforge tiro o calor da amizade e adormeço com ele enrolado na minha túnica.

 A manhã acorda soalheira. Preparo o cavalo e com um toque ligeiro parto à desfilada pelas encostas transmontanas.



Belo Chacim, quero-te tanto!
Não há para mim maior encanto.
Tuas belezas são primores de admirar,
Que grande glória em Chacim em ti morar!


 Segundo a lenda habitava em Chacim, no Castelo do Monte Carrascal um tirano rei mouro. Carregava com tributos as populações e as noivas (Tribuno das Donzelas) tinham que passar pelo tálamo real antes de contraírem núpcias. Um belo dia eis que os servidores do Emir lhe disseram que ia casar a mais bela jovem da aldeia (nestes casos é sempre à mais bela que acontece isto), mas pelos vistos o noivo não estava afim de entregá-la aos desejos do tirano. Quando tentam raptar a noiva eis que a revolta se estalou, daí à tareia e pancadaria de meter medo foi um passo. O povo ia perdendo terreno mas ao brado do noivo, que já estava a ver o caso mal parado, - «Aos inimigos da nossa raça irmãos», o povo ganhou novo ânimo e vai o povo à mourama. Entre mortos e feridos alguém tinha que escapar e aí surge uma formosa senhora que com um vaso de bálsamo na mão, os vai sarando. Claro que só podia ser a Mãe de Deus e, assim, após a morte do Emir, os mouros bateram em retirada e todos os anos no dia 9 de Agosto, o povo comemora a vitória com uma festa em honra da Defensora do Lar e Padroeira dos Noivos, a Divina enfermeira Senhora de Balsamão.

 Marius, como ainda está em época festiva, come lá uma rabanada de estalo não fizesse ela parte da gastronomia da região.



 Ouvem-se maças. Dois cavaleiros do passado passam à desfilada. Para onde irão eles? Vão combater os mouros. Eram tão famosos estes dois cavaleiros que com as suas fortes maças de armas desancavam nos mouros que o rei resolveu chamar ao lugar de Macedo de Cavaleiros. E assim nasceu Macedo de Cavaleiros. É gente que tem aquele ditado tão antigo que se perde na bruma do tempo: «Para cá do Marão, mandam os que cá estão». Se assim é, tudo bem!..



«Quem Mirandela mirou, em Mirandela ficou.»

 Se por acaso fosse só pelas suas famosas alheiras não seria bem assim mas Mirandela é, de facto, uma cidade a quem o epíteto acima referido cai que nem uma luva.

 Tendo subido à categoria de cidade em 1984, tem nas lendas a derivação de Mirandela, dos olhares apaixonados que das atalaias do seu poderoso castelo sobre ela lançava o rei mouro de Lamas de Orelhão, nos poentes maravilhosos do Norte.

 Por lá andaram os romanos e foi D. Dinis quem implantou a povoação no cabeço de S. Miguel. Terra fortificada, com a sua Torre de Menagem era considerada como uma das melhores fortalezas de Trás-os Montes.

 Um fragmento do Arco de Santo António, é o que resta do castelo e até mesmo o pelourinho da vila desapareceu. Do Santuário de Nossa Senhora do Amparo vê-se uma paisagem magnífica.

 O Rio Tua oferece paisagens extraordinárias e, em Mirandela, é vê-lo garboso enquadrado pela Ponte Velha, do século XVI, de arcos e talha-mares robustos.



 Marius vai às alheiras, só em Mirandela se comem alheiras assim.