24.5.06

Por Terras e Paisagens Transmontanas



 Marius deambula pela cidade de Vila Real. Dirige o seu cavalo para a freguesia de Panóias.

 D.Henrique dera foral a Constantim de Panóias. Outrora, tudo em volta era território de Panóias, limitado pelos seus castros e pelos rios Tua, Tinhela, Teixeira e Douro. Murça de Panóias ou Vila Real de Panóias como virá ser conhecida, teve uma posição dominante administrativamente, militar e religiosa, tendo os Romanos explorados a sul, minérios e vinhas encontrando-se ainda vestígios dessa passagem no concelho de Régua, no lugar de Covelinhas e no Castellum da Fonte do Milho.



 O Santuário de Panóias (monumento durante muitos anos designado por Fragas de Panóias) foi construído entre os finais do século II e os inícios do século III d. C. D. Dinis disse – «e esta Vila Real seja a cabeça de toda a Panóia». As acrópoles do mundo pagão seriam formadas por sete pedras-santuárias. Talhadas com várias cavidades, de diversos tamanhos, bem como escadas de acesso estas fragas serviam para sacrifícios dedicados aos deuses como se pode ler numa inscrição:

  «Geno Caio Calpurnio Rufino, varão consular, dedicou este Lago eterno, com este templo em que se queimam as vitimas, aos deuses e às deusas, e a todas as divindades, e aos Lapitas.

 Séculos mais tarde, à falta de Santuários deste tipo, outras vítimas eram queimadas em fogueiras, presas a barrotes em nome da Fé.

 Marius dirige o seu cavalo para outras paragens. Não consegue conceber que para agradar a deuses, sejam eles quais forem, seja necessário oferecer o sangue de inocentes, mas ínvios são os desígnios do Homem.

 Bisalhães

  - Conhecida pela sua olaria de barro negro, os oleiros, hoje cada vez mais raros, iam buscar o barro a Parada de Cunhos. A venda do artesanato era feita nas feiras do distrito para onde iam a pé ou de jerico. Hoje é vê-los nas encostas do Marão para turista comprar o seu produto e é devido a essa incerteza de venda que o artesanato português cada vez mais se transforma em peças «Made in… qualquer coisa.». Os jovens não se sentem atraídos e as mãos que manejavam com perícia o barro vão envelhecendo e outras mais novas não                                                     tomam o seu lugar.

  A Tuna de Bisalhães, com os seus violinos, guitarras e bandolins vão tocando de ouvido o que muitos nem de pauta o conseguem.

 Vamos cavalito hoje o teu dono está numa de sentimental.

 «Sai-se daqui munto com de noute p’ra ir à feira e a gente chega com a de noute»

 Assim diziam os habitantes de Lamas de Olo implantada no Parque Natural de Alvão, quando se deslocavam às feiras na vila para venderem os seus produtos agrícolas ou gado.



 Em Lamas de Olo não há pressas e os dias passam devagar. O recolher do gado ao fim do dia é uma das tarefas rurais, a par de muitas outras, como as malhas do centeio, do milho e do feijão, as desfolhadas e as vessadas (em que se prepara a terra para as próximas sementeiras). A matança do porco, a confecção do fumeiro e o fabrico do pão completam o dia-a-dia dos seus habitantes. As suas casas são cobertas de colmo para protecção à neve que ali cai abundantemente, onde o gado rumina por baixo e na parte de cima vive a família. Em dias de chuva, é vê-la correr pela rua nos assentos laterais juntos à pequena janela. E a vida passa bucólica tendo as mamoas e as muas do Alvão como horizonte de um povo isolado mas hospitaleiro.

O Bispo de Vila Real e o povo de Lamas de Olo


 Um Bispo de Vila Real mostrou interesse em visitar as povoações nas montanhas de difícil acesso. Naquele tempo só a pé ou de cavalo é que se chegava lá. Naquelas aldeias havia muita gente e vivia-se muito bem com estes povos.

 Então o Bispo mandou avisar algumas pessoas de Lamas Olo que ia visitá-las um dia. O automóvel do Bispo só dava para ir até uma povoação chamada Agarês, que ficava ainda longe de Lamas de Olo. Vieram pessoas visitar o Sr. Bispo só até onde ele chegou. Estas pessoas não sabiam do que é que se tratava.

 Disseram-lhes que era um homem que trazia um gorro vermelho na cabeça e mandava nos padres. Quando o carro do Bispo chegou a Agarês, onde a estrada acabava, os habitantes de Lamas de Olo vieram com os jumentos da região.

 Vendo então um destes que saiu do automóvel um homem de gorro vermelho na cabeça, aproximou-se dele e perguntou-lhe assim:

- Você é que é o ti Bispo?

- Sou, sim, o Sr. Bispo.

Então o homem disse assim para o Bispo:

- Então salte lá para cima dessa burra, que ela arrasta tudo nem que seja o Diabo.



  Ermelo recebeu foral de D. Sancho I. O seu pelourinho e a velha Casa da Câmara é o que resta da sua posição concelhia. Ladeada pelas serras de Mesia e do Marão a vida é vincadamente transmontana mas a proximidade com Mondim de Basto traz já um pouco das influências minhotas no seu folclore. Quem quiser ir até Fisgas de Ermelo tem que ter atenção redobrada, dado tratar-se de uma zona perigosa, onde já ocorreram alguns acidentes. A região do Alvão é especialmente fria, mesmo durante a Primavera. Em alturas de mau tempo, com chuva e neve, não se deve aventurar por locais que se desconhece.

 Assim sendo e para aqueles que ”viajam” através daquilo que este escriba aqui escreve poderão fazê-lo virtualmente:

Fisgas de Ermelo

1 comentário:

Anónimo disse...

Portugal está a esquecer as suas tradições em nome do seu vício o betão Enviado por tron em maio 23, 2006 03:51 PM

Já aprendi mais um pouco, fiquei a conhecer o Santuário de Panóias e a sua história; a existência de uma terra chamada Bisalhães (donde virá o termo? Será daquelas bilhas?!) e da saga do Bispo de Vila Real por terras de Lamas de Olo. Valeu a pena amigo Marius, os parabés por este blog. Um abraço. João A. Melo Enviado por segundavida em maio 23, 2006 10:10 PM

Parabéns pelo trabalho. Conheci Lamas de Olo, através de um casal amigo e fiquei maravilhada. Enviado por aurani em maio 23, 2006 10:20 PM

Muito aprendo contigo....até aprendi a gostar dos romanos....agora falando sério...as tuas narrativas são muitos boas e deixas-nos com vontade de visitar essas terras, essas gentes. Bom fim semana. Bj com mto carinho Enviado por bitu em maio 26, 2006 12:20 PM

Sabes João, é mais fácil encontrar o nome dos jogadores da selecção de mil novecentos e carqueja do que a origem dos nomes das nossas aldeias. Pesquisei bastante e a única coisa que te posso dizer é que quando a olaria chegou já Bisalhães era Bisalhães. Pode ser que alguém que por aqui "passe" possa acrescentar mais alguma coisa. Um abraço Enviado por marius70 em maio 30, 2006 07:01 PM