23.7.06

... Pela Costa Vicentina



 Marius segue agora em direcção à Costa Vicentina. Vai alcursar (1) terras que nunca viu, sentir a abafura (2) própria das terras Alentejanas.


 Segue a caminho de Sines. Por várias vezes perto passou e assim resolveu conhecer a terra onde Vasco da Gama nasceu.

 Visita a Ermida de Nossa Senhora das Salas, defronte ao porto de pesca. Caiada de um branco imaculado, só resta ver a fachada e andar pois, com as portas cerradas, não se pôde ver o Altar-mor em talha dourada com imagem de Nossa Senhora das Salas (século XVII), fica para uma próxima oportunidade.


 Vai até ao castelo onde as suas muralhas continuam firmes e belas desfrutando-se das suas ameias uma vista geral sobre o mar, onde o sol faz cintilar as águas como se ali estivessem miríadas de estrelas. No seu interior nada mais resta do que um terreno devastado e, uma tenda enorme ali montada para que efeito nada dizia.

 Junto ao Castelo, Vasco da Gama “olha” o mar, velhos canhões ainda ali estão, mostrando um passado de guerras. Quase não é necessário dizer que os romanos foram os primeiros a fazer de Sines um centro portuário e industrial… ah, estes romanos!


  Numa Adega típica, a “dois” passos do castelo, marius deliciou-se com umas sardinhas assadas e com um bom vinho da casa.

 Do castelo desce à marginal e demanda a Porto Côvo.

 Terra cantada por Rui Veloso que “roía” uma laranja na falésia, Porto Côvo tem nas suas casas pintadas de azul e branco o «ex-libris» daquela vila alentejana. Depois foi a desilusão. Descendo até ao mar, ali só se encontra um local abandonado, maltratado, candeeiros partidos, o que resta de uma casa, que no passado deve ter servido para algo, agora serve para os dejectos de quem quer “aliviar-se” em alturas mais aflitivas. O cheiro a fénico polui o ar, no miradouro a placa que deveria servir para explicar, a quem visita, a fauna marítima da região encontra-se partida e ilegível.

 Ao longe a Ilha do Pessegueiro.


 De volta à estrada, marius vai a caminho de V. N. Milfontes. Uma visita rápida ao castelo pois as suas ruas estreitas encontravam-se pejados de gente e carros que se dirigiam às suas praias. Será uma visita a fazer com mais tempo e fora da época estival.

 Odeceixe foi a próxima paragem. Já com um “pé” no Algarve Odeceixe tem no seu moinho o «ex-libris». Quando marius a visitou estava toda engalanada com as cores do brasão da vila e, nas paredes das casas, “quadros” com motivos marítimos.


 Depois de um breve passeio, irá mais tarde conhecer as suas praias, vai marius rumo ao Algarve onde, pela primeira vez, pisou as ruínas de uma casa romana.


1 - Alcursar - ver, alcançar com a vista;
2 - Abafura - calor abafadiço.

9.7.06

Do Norte...



 Marius70 olha desolado para o que resta da memória de um povo. De norte a sul, exceptuando alguns locais onde o património histórico está vivo, ruínas, mato, escória e até um convento que hoje é um galinheiro, são o que restam do que outrora fora locais onde homens e mulheres se amaram, crianças brincaram e braços lutaram por um ideal, por uma parcela, por uma Pátria.

 Marius segue através do Marão. Vai ver e sentir terras que nunca visitara mas sobre as quais escrevera. Estrabão fizera o mesmo, nunca tinha estado na Península Ibérica no entanto escreveu sobre ela.

 Desfiladeiros e paisagens maravilhosas estendiam-se sobre o seu olhar. Ao lado a Serra de Alvão. Em Murça vai ver a “porca” num pequeno largo ajardinado, instalada frente à Câmara, um belo edifício, e da Igreja paroquial.

 Pára em seguida em Mirandela. Marius admira aquela bela Ponte Velha, sobre o rio Tua. Passeia pelo jardim onde, à sombra das suas árvores, dava vontade de ali ficar, desfrutando o fresco do rio e o chilrear da passarada. Infelizmente o almoço não correspondeu à fama da gastronomia, outras alturas virão para apreciar o que de Mirandela tem de melhor neste aspecto, é só encontrar o local certo.


 Sai a caminho de Bragança. O tempo começa a ficar abafado, aqui e ali, em pleno Marão, caem pequenas bátegas de chuva.

 Chega finalmente ao destino que se propusera quando se lançou à estrada, ver Bragança. Vai à zona histórica, a história está ali. O castelo bem conservado de onde se desfruta uma paisagem sobre a cidade, sobre a natureza, sobre os homens que, naquele castelo, davam as “boas-vindas” àqueles que pensavam que os bragançanos eram de pouca “estaleca”, engano deles e, por certo, sentiram na pele a valentia destes homens do nordeste transmontano.


 Marius entra na Domus Municipalis. Senta-se e sente naquela pedra a história dos homens bons que ali debatiam em comunidade os destinos do povoado.


 Por momentos comunga com o passado e, ao sentir o frio daquelas paredes, lembra o calor dos tempos em que todo um povo fazia daquele local, daquelas ameias, daquela paisagem um modo de vida.

 Vai até ao centro da cidade. Uma cidade virada para o futuro sem esquecer o passado.

 Marius parte de novo para a estrada de regresso à terra que o viu nascer. Ao longe o ribombar dos trovões. Mais uns pingos de chuva a anunciarem o que estava para chegar. Já de noite, uma forte trovoada abate sobre Famalicão. Tinha chegado ao litoral a tempestade oriunda de Espanha. Como diz o povo: «De Espanha nem bom vento… »

 Marius irá continuar a viagem desta vez pela Costa Vicentina até aos Algarves onde as suas sandálias pisaram o solo outrora pisado pelos romanos…

… e, os incêndios em Portugal, já começaram a matar.