23.4.07

De Mogadouro a Freixo de Espada à Cinta



  Vai marius por serras, montes e um rio serpenteia na paisagem, é o Douro. Aqui e ali, um coelho espreita . O seu podengo e o seu cavalo lusitano espantam-se com os barulhos da Primavera. Os pássaros chilreiam, a água cristalina vai correndo nos ribeiros. Novas vidas nos covis, nos ninhos esperam ansiosamente pelos pais que lhes irão trazer nova ração. É assim a vida de quem sabe ser pais e não atiram os filhos para a valeta.

  Macaduron, de origem árabe, "nasce" como Mogadouro para a nacionalidade portuguesa em 1272 com foral do Rei D. Afonso III. D. Dinis em 1279 concede a vila aos Templários mandados para as calendas pela Ordem de Cristo até que os Távoras, não sendo nem Templários nem da Ordem mas tendo poderio, impuseram-se, até que o Marquês de Pombal os perseguiu e aproveitando o terramoto em Lisboa mandou enterrar alguns vivos que sendo Távoras ainda melhor.

  Enfim!... É um Portugal dos pequeninos este, ninguém respeita ninguém e quem se lixa é sempre o mexilhão, Mogadouro não mais voltou a ser o que era.

Mogadouro - Pelourinho

  Desses tempos ainda restam a torre e ruínas do antigo castelo dionísico, perto do qual se pode ver o pelourinho, de fuste hexagonal e cabeça de quatro pontas.





Mogadouro - Ponte Romana




  A visitar: a Igreja Matriz, moradias brasonadas, o Convento de S. Francisco e que tal passar na ponte romana? É sempre um prazer passar por uma ponte por onde os romanos passaram e que resiste às intempéries e à passagem dos milénios!




Mogadouro - Monóptero




  Curioso é o “Monóptero” de S. Gonçalo na velha Quinta de Nogueira pertença dos Távoras, um exemplar barroco de grande raridade, sem função rigorosa atribuída, mas com banquinhos no seu interior nada melhor serviria do que passar ali os Távoras as suas tardes ouvindo o chilrear da passarada, digo eu!...






Mogadouro - Fraga da Letra  Subir à serra da Castanheira e admirar o lençol branco formado pelas flores das amendoeiras na Primavera ou até a Penas Roias para visitar o velho Castelo e a torre obra de Gualdim Pais, o panorama subjacente e visitar as pinturas rupestres «Fraga da Letra» é, com uma boa e posta de vitela a famosa «Posta Mirandesa», um bom passeio para quem teima ir para fora com tanta coisa bela cá dentro.






  Freixo de Espada à Cinta, será anterior a Cristo, pré-romana como o atestam a arte rupestre pré-histórica, da qual o “cavalo de Mazouco” foi o primeiro sítio de arte rupestre paleolítica de ar livre descoberto no território português, e uma enorme quantidade de vestígios castrejos que ainda hoje podem ser apreciados nos seus devidos locais.

  Seria um fidalgo Godo – Espadacinta – que aqui se bateu com bravura ou de um fidalgo leonês cujo brasão tinha um feixe e uma espada ou o próprio El-Rei D. Dinis (este Rei está em todas, não bastava ir a Odivelas… (Clicar Aqui) que encostara a sua espada a um freixo (que ainda existe junto ao Castelo) aquando da sua visita à terra a dar o nome a esta vila.

  No início do século XVI era uma poderosa praça de guerra cercada de muros e dotada de três torres mestras, das quais actualmente só resta uma, facetada e heptagonal exemplar único na Península Ibérica: a denominada Torre do Galo ou do Relógio.

  O pelourinho manuelinho, conservando ainda todas as ferragens no capitel, as suas fragas, a Igreja da Misericórdia, as amendoeiras em flor, a Fonte de Ménones, a Calçada de Alpagares, a Ponte Romana do Candedo, a Ribeira do Mosteiro, os seus trabalhos artesanais em seda (até 1791 Freixo possuiu 4 fábricas e 71 teares), e a paisagem magnifica que a região demarcada do Douro oferece ao visitante, é o suficiente para todos os anos este roteiro ser obrigatório.


O Mês de Abril vai lentamente chegando ao fim. Diz o povo:


Abril chove para os homens e Maio para as bestas.

Abril chuvoso, Maio Ventoso, fazem o ano formoso.

Abril e Maio são as chaves de todo o ano.

Abril frio e molhado, enche o celeiro e farta o gado.

Abril mete a ovelha no covil.

Abril molhado, ano abastado.

Abril, águas mil, cabem todas num barril.

Abril, ora chora, ora ri.

Abril, tempo de cuco, de manhã molhado e à tarde enxuto.

As manhãs de Abril são boas de dormir.

Borreguinho de Abril, tomaras tu mil.

Em Abril abre a porta à vaca e deixa-a ir.

Em Abril cada pulga dá mil.

Em Abril queimou a velha, o carro e o carril; e uma cambada que ficou, em Maio a queimou.

Negócios no mês de Abril, só um é bom em mil.

Vinha que rebenta em Abril, dá pouco vinho para o barril.


  Velha sabedoria do povo que com o buraco de Ozono e as alterações climáticas dentro de alguns anos só fará parte da memória colectiva e nada mais.

2.4.07

Lendas, Amendoeiras e Castelos



  O sol vai aquecendo lentamente o dia. O frio ainda aperta mas pelos campos, pequenas flores; Malmequeres, Dentes-de-Leão vão fazendo a sua aparição. A passarada prepara o ninho para a prole que vem a caminho. As andorinhas, apanhadas de surpresa pelo frio, ainda não surgiram pois marius não as vê nos beirais das casas. É a Primavera que timidamente vai chegando.

  Em Sendim da Serra uma pastora tinha o costume de fazer um altar, enquanto o rebanho pastava na serra, colocando uma estampa de uma senhora e ornamentando com flores silvestres que apanhava no campo. Intrigava-lhe o facto de ali haver tais flores e, então, apareceu-lhe uma linda senhora que lhe explicou a razão.

  A pastora contou à mãe o sucedido e esta não acreditando mandou a filha para outro local. A pastorinha voltou a fazer o altar no novo local e a senhora voltou-lhe a aparecer pedindo que lhe fosse edificada uma Igreja. O povo ao saber de tal pedido acompanhou a pastora levando duas velas na mão para acender quando a senhora surgisse. Velas acesas e o povo sem nada ver. De repente levanta uma violenta tempestade de ventania e pó, as velas permanecem acesas e as chamas ficam firmes e hirtas como uma barra de ferro. Aí o povo acreditou e mandou erigir uma capela mas não no local onde a pastora queria. Pareciam as obras de S. Engrácia, faziam durante o dia e à noite tudo ruía. Lá resolveram fazer a vontade à pastorinha e construíram o templo no local desejado. Certo é que as obras andaram mais depressa que o previsto (era bom que fosse sempre assim) e bem depressa a Igreja dedicada a Nossa Senhora de Jerusalém ficou concluída, e tudo porque um dia desceu à terra para explicar que as flores podem nascer sem serem semeadas.

  Estas lendas, com algumas variantes, aparecem muito por este país à beira-mar plantado e quase sempre são pastorinhos os que têm o ensejo de serem escolhidos pelos poderes divinos.


Alfandega da Fé  Vai Marius a caminho de Alfândega (agora talvez leve mais um L e passe a ser Allfandega) da Fé. De fundação árabe, Alfandagh levou o Fé de alguns cavaleiros de esporas douradas que ajudaram os habitantes de Chacim e Castro Vicente a libertá-los da tutela e imposto desonroso do rei mouro que ali governava, que mais não era que entregar a este rei as donzelas da região (já contei esta lenda no tema «Pelo Rio Tua»). É o que faz meterem-se os mouros com este povo abençoado, portam-se mal levam com as contas do rosário.

  Sem monumentos dignos de visita, há que ir até á serra de Bornes e ver as gravuras rupestres dos tempos pré-históricos da Quinta da Ridevives.
Há que aproveitar esta época para ver as amendoeiras em flor ou ir até à Ermida de Nossa Senhora dos Anúncios e dali avistar um cenário fascinante desde o vale às montanhas circundantes.

  Se estiver na hora da janta nada melhor que aproveitar a excelente comida regional com as típicas greladas nos lagares de azeite. Um bacalhauzinho assado, uns grelinhos tenrinhos, batatinhas assadas, tudo molhado no azeite novo e regado com o bom vinho não há repasto melhor. Ter atenção que deve beber com moderação e se não fizer não se meta à estrada e durma um sono descansado. É que já é moda andar em contramão e não seja mais um que devido aos efeitos etílicos não veja a tal sinalização e coloque a sua e outras vidas em risco.

  Em Sambade veja a bonita Igreja Matriz setecentista, de frontaria joanina e os fornos tradicionais. Aproveitaram os de Sambade, o desenvolvimento que lhes trouxeram as antigas indústrias de lã e do bicho-da-seda e dela fizeram pólo de desenvolvimento rural.

  Marius vai a seguir até Mogadouro. Irá ver da Barragem da Estevinha as ruínas da torre de menagem do Castelo de Mogadouro de quem eram alcaides-mores, os Távores fidagais inimigos do Marquês de Pombal.

Mogadouro - Castelo