29.5.06

Um pedido

Se alguém souber toda a letra desta cantiga (está num comentário de um tema atrasado do Rumo ao Sul), agradecia que a colocasse neste tema para que possa ser enviada, já pesquisei e consultei o cancioneiro transmontano mas nada encontrei.

Obrigado desde já!

Hola, eo so do Madrid, meu marido é de Chacim (Tras-os-montes). Penso que tu blog é muito interesante e podes ajudar-me.

Eo preciso el texto de una cantiga que começa assim (mais o menos) :

"Eo so de Trasosmontes,
de trasosmontes tierra bravia
no vale la pena chorar
porque mais pronto he de voltar..."

¿Alguém a conhoce.? Eo a preciso para um trabalho do meu filho. É muito urgente

Obrigado

Perdoar meu português

Raquel

24.5.06

Por Terras e Paisagens Transmontanas



 Marius deambula pela cidade de Vila Real. Dirige o seu cavalo para a freguesia de Panóias.

 D.Henrique dera foral a Constantim de Panóias. Outrora, tudo em volta era território de Panóias, limitado pelos seus castros e pelos rios Tua, Tinhela, Teixeira e Douro. Murça de Panóias ou Vila Real de Panóias como virá ser conhecida, teve uma posição dominante administrativamente, militar e religiosa, tendo os Romanos explorados a sul, minérios e vinhas encontrando-se ainda vestígios dessa passagem no concelho de Régua, no lugar de Covelinhas e no Castellum da Fonte do Milho.



 O Santuário de Panóias (monumento durante muitos anos designado por Fragas de Panóias) foi construído entre os finais do século II e os inícios do século III d. C. D. Dinis disse – «e esta Vila Real seja a cabeça de toda a Panóia». As acrópoles do mundo pagão seriam formadas por sete pedras-santuárias. Talhadas com várias cavidades, de diversos tamanhos, bem como escadas de acesso estas fragas serviam para sacrifícios dedicados aos deuses como se pode ler numa inscrição:

  «Geno Caio Calpurnio Rufino, varão consular, dedicou este Lago eterno, com este templo em que se queimam as vitimas, aos deuses e às deusas, e a todas as divindades, e aos Lapitas.

 Séculos mais tarde, à falta de Santuários deste tipo, outras vítimas eram queimadas em fogueiras, presas a barrotes em nome da Fé.

 Marius dirige o seu cavalo para outras paragens. Não consegue conceber que para agradar a deuses, sejam eles quais forem, seja necessário oferecer o sangue de inocentes, mas ínvios são os desígnios do Homem.

 Bisalhães

  - Conhecida pela sua olaria de barro negro, os oleiros, hoje cada vez mais raros, iam buscar o barro a Parada de Cunhos. A venda do artesanato era feita nas feiras do distrito para onde iam a pé ou de jerico. Hoje é vê-los nas encostas do Marão para turista comprar o seu produto e é devido a essa incerteza de venda que o artesanato português cada vez mais se transforma em peças «Made in… qualquer coisa.». Os jovens não se sentem atraídos e as mãos que manejavam com perícia o barro vão envelhecendo e outras mais novas não                                                     tomam o seu lugar.

  A Tuna de Bisalhães, com os seus violinos, guitarras e bandolins vão tocando de ouvido o que muitos nem de pauta o conseguem.

 Vamos cavalito hoje o teu dono está numa de sentimental.

 «Sai-se daqui munto com de noute p’ra ir à feira e a gente chega com a de noute»

 Assim diziam os habitantes de Lamas de Olo implantada no Parque Natural de Alvão, quando se deslocavam às feiras na vila para venderem os seus produtos agrícolas ou gado.



 Em Lamas de Olo não há pressas e os dias passam devagar. O recolher do gado ao fim do dia é uma das tarefas rurais, a par de muitas outras, como as malhas do centeio, do milho e do feijão, as desfolhadas e as vessadas (em que se prepara a terra para as próximas sementeiras). A matança do porco, a confecção do fumeiro e o fabrico do pão completam o dia-a-dia dos seus habitantes. As suas casas são cobertas de colmo para protecção à neve que ali cai abundantemente, onde o gado rumina por baixo e na parte de cima vive a família. Em dias de chuva, é vê-la correr pela rua nos assentos laterais juntos à pequena janela. E a vida passa bucólica tendo as mamoas e as muas do Alvão como horizonte de um povo isolado mas hospitaleiro.

O Bispo de Vila Real e o povo de Lamas de Olo


 Um Bispo de Vila Real mostrou interesse em visitar as povoações nas montanhas de difícil acesso. Naquele tempo só a pé ou de cavalo é que se chegava lá. Naquelas aldeias havia muita gente e vivia-se muito bem com estes povos.

 Então o Bispo mandou avisar algumas pessoas de Lamas Olo que ia visitá-las um dia. O automóvel do Bispo só dava para ir até uma povoação chamada Agarês, que ficava ainda longe de Lamas de Olo. Vieram pessoas visitar o Sr. Bispo só até onde ele chegou. Estas pessoas não sabiam do que é que se tratava.

 Disseram-lhes que era um homem que trazia um gorro vermelho na cabeça e mandava nos padres. Quando o carro do Bispo chegou a Agarês, onde a estrada acabava, os habitantes de Lamas de Olo vieram com os jumentos da região.

 Vendo então um destes que saiu do automóvel um homem de gorro vermelho na cabeça, aproximou-se dele e perguntou-lhe assim:

- Você é que é o ti Bispo?

- Sou, sim, o Sr. Bispo.

Então o homem disse assim para o Bispo:

- Então salte lá para cima dessa burra, que ela arrasta tudo nem que seja o Diabo.



  Ermelo recebeu foral de D. Sancho I. O seu pelourinho e a velha Casa da Câmara é o que resta da sua posição concelhia. Ladeada pelas serras de Mesia e do Marão a vida é vincadamente transmontana mas a proximidade com Mondim de Basto traz já um pouco das influências minhotas no seu folclore. Quem quiser ir até Fisgas de Ermelo tem que ter atenção redobrada, dado tratar-se de uma zona perigosa, onde já ocorreram alguns acidentes. A região do Alvão é especialmente fria, mesmo durante a Primavera. Em alturas de mau tempo, com chuva e neve, não se deve aventurar por locais que se desconhece.

 Assim sendo e para aqueles que ”viajam” através daquilo que este escriba aqui escreve poderão fazê-lo virtualmente:

Fisgas de Ermelo

12.4.06

Gastronomia - Minho



 Marius70 está a percorrer o país mostrando as suas belezas naturais, lendas e tradições. Pensando na gastronomia de cada região, vou procurar mostrar aqui o que melhor se come nos locais por onde Marius passar. Será um Portugal gastronómico, certo de que algumas ideias serão aproveitadas para serem confeccionadas, seja do Minho ao Algarve, nos Açores e na Madeira, ou por esse mundo fora, onde se fala ou vive um português. Que este meu roteiro gastronómico lhes leve os sabores de Portugal!


Caminha Arroz ou cabidela de lampreia, sável de escabeche e frito, mariscos



ARROZ DE LAMPREIA

Ingredientes:

1 Lampreia;
2 cebolas;
2 dl de azeite;
1 ramo de salsa;
1 dl de vinho branco;
1/2 chouriço de carne;
Sal,
Pimenta;
400g de arroz

 Preparação:

 Prepara-se a lampreia e corta-se em bocados e tempera-se com o vinho branco, a salsa, sal e pimenta.

 Faz-se um refogado, pouco puxado, com a cebola e o azeite. Introduz-se a lampreia neste refogado juntamente com o sangue, a salsa e o vinho que serviram para a temperar. Adiciona-se um pouco mais de pimenta e o chouriço cortado às rodelas e deixa-se refogar. Depois, retiram-se os bocados de lampreia e acrescenta-se a calda com água. Esta deve ser em quantidade que perfaça cinco a seis vezes o volume do arroz. Rectifica-se o paladar da calda, deixa-se levantar fervura e junta-se o arroz escolhido mas sem ser lavado. Depois do arroz cozido, o que leva cerca de 20 minutos, introduzem-se os bocados de lampreia e serve-se o arroz imediatamente.

Lanhelas:Solha seca frita, torta de camarão.

Solhas Secas à moda de Lanhelas

 (Receita de D. Deolinda Rodrigues - Lanhelas)

 Amanham-se e limpam-se as solhas. Salgam-se com bastante sal e colocam-se num recipiente de um dia para o outro (24 horas). No dia seguinte, retiram-se-lhes todo o sal e demolham-se durante duas horas, aproximadamente. Atam-se aos pares de forma a poderem ser colocadas no pau do fumeiro. Defumam-se lentamente durante dois dias.

 Como cozinhá-las:

 Cozidas: Cozem-se as solhas com batatas e cebolas, após o que se servem numa travessa, bem regadas com um bom azeite e vinagre a gosto.
Passadas na sertã (forma mais tradicional): Põe-se a sertã com óleo ao lume e logo que esteja quente, passam-se rapidamente as solhas de um lado e de outro. Servem-se bem quentes e com bastante alho. (Esta é a tradição na Festa das Solhas, em Lanhelas).

  V. N. de Cerveira: Debulho de sável, lampreia refogada ou com arroz, tainha assada no forno, biscoitos de milho.



 Debulho de Sável

 Desde tempos remotos que o sável se pesca nas águas do Rio Minho. Em Cerveira os pescadores pescavam sável e as mulheres encarregavam-se de o vender, indo muitas das vezes de porta em porta vendê-lo ás postas. Como na maioria das vezes os compradores só queriam as postas maiores, elas ficavam com as partes mais fracas do sável que eram a cabeça, o rabo, as ovas e as postas pequenas. E, assim surgiu o saboroso Debulho de Sável.

 - O sável deve ser bem escamado e limpo. Em seguida, corta-se a cabeça e o deguladouro (posta junta à cabeça). Junto a este está o fígado ao qual se extrai o fel. Tiram-se as ovas e aproveita-se todo o sangue possível que irá servir para a calda. Cortam-se, também, o rabo e as postas mais pequenas.

 Num recipiente, coloca-se então o debulho, que é composto pela cabeça, deguladouro, o rabo, as postas mais pequenas, as ovas e o fígado. Tempera-se com sal, salsa, louro, pimenta, cravinhos e cobre-se com vinho verde tinto. Deixa-se marinar durante umas horas.

 Num tacho, pica-se uma cebola grande e deita-se um pouco de azeite, vai ao lume e logo que a cebola esteja estalada, adiciona-se um pouco de pimentão, o debulho e a respectiva calda. Cozido o peixe, retira-se para um recipiente ao lado. À calda inicial, junta-se a água necessária para cozer o arroz e uma boa colher de vinagre.

 Assim que o arroz esteja cozido, junta-se o debulho e rectificam-se os temperos.
Deixa-se repousar uns minutos e serve-se o arroz a fugir pelo prato.

22.3.06

Vila Real



 Longe vai já o tempo em que marius começou esta caminhada. Foi em 11-5-2003 ao som de Overture da Ópera Guilherme Tell de Rossini. Estando prevista mais uma mudança, marius vai salvaguardando tudo para nada se perder. Infelizmente há quem pense que destruir é o melhor caminho. Se imperadores e religiões destruíram Bibliotecas inteiras porque não um sapo destruir o que nada lhe custou a fazer?!... Mas destruir aquilo que marius construiu durante este tempo só o próprio marius lhe porá cobro.

Ó Vila Real alegre
Província de Trás-Os-Montes
No dia em que te não vejo
Meus olhos são duas fontes.


Vila Real



 Marius olha a cidade adormecida na Meia-Laranja. Já cá estivera e o calor era insuportável. Agora, mais serena, Vila Real, debruçada sobre o Rio Corgo que lhe atravessa a cidade, dominada pelas serras do Alvão e do Marão, teve em D. Dinis o verdadeiro povoador da província transmontana e alto douro, contrariando o velho ditado de que o Marão «não dá palha nem grão». Hoje, completamente florestada, nela se situando as Pousadas Nacional de S. Gonçalo e do Mesio.

 Inicialmente chamada de Vila Real de Panóias (ou Panonias), era na Baixa Idade Média, o centro de um vasto território, onde o culto aos deuses e o poderio militar, como não poderia deixar de ser, era romano.

 Saíram os romanos, vieram os árabes e Vila Real só voltou a ter importância relevante após a construção de uma muralha e de um castelo na «vila velha» sobre o promontório do Rio Corgo, mas embora bem construída não ficou pedra sobre pedra no século XIX.

 Segundo rezam as crónicas em Vila Real teria nascido Diogo Cão, descobridor de Angola, em cuja cidade de Luanda tinha uma estátua mas que os ventos revolucionários mandaram a mesma para as urtigas.

Diogo Cão


 A bela fachada da Capela Nova, a Igreja do antigo Convento de S. Domingos, hoje Sé-Catedral, as janelas geminadas manuelinas do antigo Palácio dos Marqueses de Vila Real, o famoso Solar de Mateus (vai um Rosé?), obra magnífica de Nasoni, possuindo uma belíssima fachada cheia de pináculos, sempre reflectida num lago rectangular, e um interior repleto de preciosidades que se pode visitar, assim como os jardins românticos e deslumbrantes.

Casa Mateus


 Marius revisita a bela frontaria dos Paços do Concelho e o Pelourinho. Vai deambulando pelos jardins e pelas paisagens magníficas sobre o rio Corgo admirando a terra lavrada dos socalcos e onde casas se confundem com a vegetação.

 Vila Real foi a primeira cidade portuguesa a ser iluminada por energia eléctrica em 1895. Outros motivos de interesse são as Pontes de Piscais, a de Santa Margarida, onde no antigamente ali as lavadeiras lavavam e punham a corar a roupa, (será que a tradição ainda é o que era?... tenho as minhas dúvidas.), a ponte de Almodena e a ponte romana (já cá faltava esta) de Torneiros.

 Camilo Castelo Branco tem uma lápide em sua homenagem na Casa dos Brocas pois este nosso escritor situa cenas de alguns dos seus romances na Torre de Quintela, em Vila Marim.

 As Tunas Populares, os Zés-Pereiras, os famosos barros de Bisalhães (o arroz no forno cozinhado nestes barros típicos é de comer e chorar por mais), a gastronomia; o cabrito assado, o fumeiro, o bacalhau à Espadeiro (companheiro de armas de D. Afonso Henriques), o bacalhau com batatas a murro, os toucinhos do céu, os covilhetes, os pitos e o sarrabulho doce fazem por certo com que o viajante não falte entre 27 a 29 de Junho à tradicional Feira de S. Pedro.

 Vou já apontar na agenda para não me esquecer.

 Ir a Vila Real, aos seus eventos desportivos, às suas feiras de artesanato, descobrir o seu património artístico, cultural e histórico é como voltar no tempo mas também saber que o futuro é já ali, e por certo que Vila Real é, sem sombras de dúvidas (embora com pequenos problemas conforme li em apontamentos feitos por quem conhece melhor aquilo do que marius), uma cidade a visitar.

 Mas, como sucedeu com marius quando lá foi, na altura do calor não se esqueça de levar uma garrafa de água bem fresquinha pois a garrafa que marius levava no alforge, depois de aberta, servia bem para cozer um ovo.


3.3.06

Por Pedras medicinais e relógios de sol



  Marius segue por um magnífico bosque a caminho de Pedras Salgadas. Questiona-se se vale a pena continuar esta caminhada. Começada já há muito tempo ela nunca terá fim. A procura constante dos caminhos a percorrer, o querer mostrar este Portugal de todos, as tradições, os costumes e a vivência deste povo tem os seus custos e o tempo não abunda. Um trabalho solitário. Marius nunca mais vê a velha mulemba do outro lado do Atlântico onde descansará. Querer é poder, vamos lá companheiros desta aventura, vamos continuar a jornada pois tudo vale a pena...



  Conhecida pela sua famosa água, em Pedras Salgadas veranearam os últimos reis de Portugal, especialmente D. Carlos. Como Pedras não são só as termas podemos ir até às Romanas, ver a ponte e os seus mosaicos romanos, a Bornes de Aguiar, ao Penedo Gigante, ao Alto do Minhéu, às ruínas dolméticas do Alvão, ao Castelo de Aguiar e à Padrela. No guia turístico diz que se para se ver as capelas do Senhor do Extremo e o Dolmen do Alto da Povoação tem que se ir de jeep. Espero que se não tiver jeep se possa ir de cavalo, senão… estou feito! Grande ajuda que os guias turísticos nos dão.



  Ribeira de Pena. Ali viveu e casou Camilo Castelo Branco. Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição. Com 16 anos enamorou-se, em Ribeira de Pena, de Joaquina Pereira de França com quem casou. Entre amores e desamores, até uma freira, Isabel Mourão, não escapou a este D. Juan à portuguesa. Depois, a mulher fatal, Ana Plácido.



  Ribeira de Pena teve foral em 1331. O Templo dedicado a Nossa Senhora da Guia, com um agradável miradouro, e a Igreja Paroquial de S. Salvador, mandada edificar por um emigrante que prometera ali fazer «uma igreja como outra não houvesse da Ponte de Caves para cima e da terra do Alvão para baixo», nada humilde este nosso emigrante.



  Os Solares, a rocha esculpida de Lamelas, a pedra cavalar de Viela, castros e dólmenes, os relógios de sol e a paisagem que vai do verde da vegetação até às águas calmas do rio Tâmega, sem esquecer o artesanato na povoação de Limões de tapetes e colchas de linho, fazem desta zona um roteiro de aprazível passeio para o turista que a visita.

8.2.06

Por vinhas e minifúndio



  Pela primeira vez marius sentira os flocos de neve. Um manto branco estendera-se pelas serras e campos. Marius sente-se maravilhado com o que a natureza mostra, a mesma que tanto nos dá a beleza como a tormenta. Natureza verdadeiro regaço da vida e da morte.

  Vamos cavalito pisar este manto, enquanto o sol não o derrete, e vamos por terras do minifúndio, da vinha e do bom azeite.

  Marius vai pela via imperial, que segue de Tinhela até ao Alto do Pópulo, atravessa a ponte romana que o leva a Murça.



  A antiga Murça de Panóias foi povoada pelos romanos (ainda gostaria de saber se por acaso os romanos olvidaram qualquer localidade, por onde marius passa sente-se a presença romana), mais tarde foi dominada pelos árabes tendo sido dado foral por D. Sancho II.

  Já na vila um monumento chama a atenção do viajante. A célebre Porca de Murça, estátua de granito fino com a provecta idade de 2000 a 2500 anos. Só que a Porca não era uma porca mas sim uma ursa que pelos vistos gerou medos e insegurança no povo que na época habitava esta região.



  As gerações presentes como nunca tinham visto um urso transformaram o mesmo numa Porca. De uma forma ou de outra não há vinho que se compare ao da Porca da Murça. Com um paladar destes antes Porca que Ursa.



  Outro monumento que desperta a atenção é o pelourinho. Instalado no jardim frente à Câmara, que foi convento de freiras beneditinas, é do tipo tabuleiro e foi construído no século XVI. O capitel termina com moldura onde, em cada uma das faces, está representada elementos heráldicos.


  Os relógios de sol, os moinhos de água, as suas fontes de mergulho, e curiosa a frontaria da Capela da Misericórdia - No eixo da frontaria, abre-se a porta que tem como função separar o sagrado do profano, a luz das trevas, o interior do exterior e, cujo significado simbólico pode ser sintetizado na inscrição latina, "QUAM TERRlBILIS EST LOCUS ES1: HIC EST DOMUS DEI ET PORTA COELI': que traduzido em Português significa, "Como é terrível este lugar: esta é a casa de Deus e a Porta do Céu" que podemos ler na cartela ao lado direito do nicho (epístola).
Janua é a palavra latina para designar porta. É curioso haver um Deus no panteão romano chamado Janus e que é representado com duas faces voltadas em sentido contrário; é a divindade guardião das portas pois que toda a porta olha para dois lados. É, portanto, um deus de transição, de passagem tendo o dom da dupla ciência: a do passado e do futuro – a sua gastronomia, o seu vinho e o seu azeite, devido ao facto de Murça estar numa zona mista de «terra fria e «terra quente», fazem desta vila passagem obrigatória para quem demanda a terras do Douro.

  Segue marius a caminho de Vila Pouca de Aguiar, condicionada pelas serras do Alvão e da Padrela, situada no vale de Aguiar, onde nasce o Rio Corgo. Terra da célebre água das Pedras Salgadas - as águas são hipotermais, meossalainas, gasocarbónicas e silicatadas, são terapêuticamente recomendadas para diabetes, colesterol e doenças do aparelho digestivo, Vila Pouca de Aguiar deve a sua origem, por certo, aos povos de Alvão que desceram para a fértil planície.



  Do pequeno Santuário de Nossa Senhora da Conceição, no verde sopé da Padrela, pode-se desfrutar a vila e o vale até à cumeada orográfica. Catedral dos dólmens e do granito, aqui se pode apreciar a boa carne maronesa.

  Na região podem-se ver vestígios de outras eras, pegadas de histórias de outras idades, pertença dos homens. Iberos, celtas, romanos, godos e árabes, terão escolhido esta zona para habitar e explorar, as mamoas de Chãs de Arcas, Portela da Chã e Lixa do Alvão, os templos românicos, a arquitectura rústica e os «canastros», «espigueiros» ou «caniços» com os seus típicos relógios de sol.

  Marius perde-se no labirinto das várias recordações que a terra dá. Outros homens aqui estiveram, outros homens irão cá estar, nada é imutável. No futuro outros homens irão olhar para este presente e dirão: «Aqui esteve um povo que fez desta terra sua, estão aqui as suas pegadas».

9.1.06

Pelo Rio Tua



 Fim de tarde. O sol deita-se no ocaso. Não voltarei a ver um pôr-do-sol tão lindo como aquele que vi nesta minha caminhada. Recortado contra a serrania, lançava os últimos reflexos e, a sombra da noite, pouco a pouco, ia tomando conta das últimas réstias de luz. Obrigado pôr-do-sol pelo acompanhamento.

 Acendo o lume, do alforge tiro o calor da amizade e adormeço com ele enrolado na minha túnica.

 A manhã acorda soalheira. Preparo o cavalo e com um toque ligeiro parto à desfilada pelas encostas transmontanas.



Belo Chacim, quero-te tanto!
Não há para mim maior encanto.
Tuas belezas são primores de admirar,
Que grande glória em Chacim em ti morar!


 Segundo a lenda habitava em Chacim, no Castelo do Monte Carrascal um tirano rei mouro. Carregava com tributos as populações e as noivas (Tribuno das Donzelas) tinham que passar pelo tálamo real antes de contraírem núpcias. Um belo dia eis que os servidores do Emir lhe disseram que ia casar a mais bela jovem da aldeia (nestes casos é sempre à mais bela que acontece isto), mas pelos vistos o noivo não estava afim de entregá-la aos desejos do tirano. Quando tentam raptar a noiva eis que a revolta se estalou, daí à tareia e pancadaria de meter medo foi um passo. O povo ia perdendo terreno mas ao brado do noivo, que já estava a ver o caso mal parado, - «Aos inimigos da nossa raça irmãos», o povo ganhou novo ânimo e vai o povo à mourama. Entre mortos e feridos alguém tinha que escapar e aí surge uma formosa senhora que com um vaso de bálsamo na mão, os vai sarando. Claro que só podia ser a Mãe de Deus e, assim, após a morte do Emir, os mouros bateram em retirada e todos os anos no dia 9 de Agosto, o povo comemora a vitória com uma festa em honra da Defensora do Lar e Padroeira dos Noivos, a Divina enfermeira Senhora de Balsamão.

 Marius, como ainda está em época festiva, come lá uma rabanada de estalo não fizesse ela parte da gastronomia da região.



 Ouvem-se maças. Dois cavaleiros do passado passam à desfilada. Para onde irão eles? Vão combater os mouros. Eram tão famosos estes dois cavaleiros que com as suas fortes maças de armas desancavam nos mouros que o rei resolveu chamar ao lugar de Macedo de Cavaleiros. E assim nasceu Macedo de Cavaleiros. É gente que tem aquele ditado tão antigo que se perde na bruma do tempo: «Para cá do Marão, mandam os que cá estão». Se assim é, tudo bem!..



«Quem Mirandela mirou, em Mirandela ficou.»

 Se por acaso fosse só pelas suas famosas alheiras não seria bem assim mas Mirandela é, de facto, uma cidade a quem o epíteto acima referido cai que nem uma luva.

 Tendo subido à categoria de cidade em 1984, tem nas lendas a derivação de Mirandela, dos olhares apaixonados que das atalaias do seu poderoso castelo sobre ela lançava o rei mouro de Lamas de Orelhão, nos poentes maravilhosos do Norte.

 Por lá andaram os romanos e foi D. Dinis quem implantou a povoação no cabeço de S. Miguel. Terra fortificada, com a sua Torre de Menagem era considerada como uma das melhores fortalezas de Trás-os Montes.

 Um fragmento do Arco de Santo António, é o que resta do castelo e até mesmo o pelourinho da vila desapareceu. Do Santuário de Nossa Senhora do Amparo vê-se uma paisagem magnífica.

 O Rio Tua oferece paisagens extraordinárias e, em Mirandela, é vê-lo garboso enquadrado pela Ponte Velha, do século XVI, de arcos e talha-mares robustos.



 Marius vai às alheiras, só em Mirandela se comem alheiras assim.