9.7.06

Do Norte...



 Marius70 olha desolado para o que resta da memória de um povo. De norte a sul, exceptuando alguns locais onde o património histórico está vivo, ruínas, mato, escória e até um convento que hoje é um galinheiro, são o que restam do que outrora fora locais onde homens e mulheres se amaram, crianças brincaram e braços lutaram por um ideal, por uma parcela, por uma Pátria.

 Marius segue através do Marão. Vai ver e sentir terras que nunca visitara mas sobre as quais escrevera. Estrabão fizera o mesmo, nunca tinha estado na Península Ibérica no entanto escreveu sobre ela.

 Desfiladeiros e paisagens maravilhosas estendiam-se sobre o seu olhar. Ao lado a Serra de Alvão. Em Murça vai ver a “porca” num pequeno largo ajardinado, instalada frente à Câmara, um belo edifício, e da Igreja paroquial.

 Pára em seguida em Mirandela. Marius admira aquela bela Ponte Velha, sobre o rio Tua. Passeia pelo jardim onde, à sombra das suas árvores, dava vontade de ali ficar, desfrutando o fresco do rio e o chilrear da passarada. Infelizmente o almoço não correspondeu à fama da gastronomia, outras alturas virão para apreciar o que de Mirandela tem de melhor neste aspecto, é só encontrar o local certo.


 Sai a caminho de Bragança. O tempo começa a ficar abafado, aqui e ali, em pleno Marão, caem pequenas bátegas de chuva.

 Chega finalmente ao destino que se propusera quando se lançou à estrada, ver Bragança. Vai à zona histórica, a história está ali. O castelo bem conservado de onde se desfruta uma paisagem sobre a cidade, sobre a natureza, sobre os homens que, naquele castelo, davam as “boas-vindas” àqueles que pensavam que os bragançanos eram de pouca “estaleca”, engano deles e, por certo, sentiram na pele a valentia destes homens do nordeste transmontano.


 Marius entra na Domus Municipalis. Senta-se e sente naquela pedra a história dos homens bons que ali debatiam em comunidade os destinos do povoado.


 Por momentos comunga com o passado e, ao sentir o frio daquelas paredes, lembra o calor dos tempos em que todo um povo fazia daquele local, daquelas ameias, daquela paisagem um modo de vida.

 Vai até ao centro da cidade. Uma cidade virada para o futuro sem esquecer o passado.

 Marius parte de novo para a estrada de regresso à terra que o viu nascer. Ao longe o ribombar dos trovões. Mais uns pingos de chuva a anunciarem o que estava para chegar. Já de noite, uma forte trovoada abate sobre Famalicão. Tinha chegado ao litoral a tempestade oriunda de Espanha. Como diz o povo: «De Espanha nem bom vento… »

 Marius irá continuar a viagem desta vez pela Costa Vicentina até aos Algarves onde as suas sandálias pisaram o solo outrora pisado pelos romanos…

… e, os incêndios em Portugal, já começaram a matar.

31.5.06

A Letra da Cantiga



Quero agradecer aqui, publicamente, ao Grupo Coral Brigantino pelo facto de ter atendido ao meu pedido e ter enviado a letra da cantiga que foi solicitada pela Raquel (ver o tema anterior). Para eles o meu muito Obrigado e longa vida ao Grupo.

Coral Brigantino

Boa tarde

Pedimos desculpa de só agora estar a responder, mas foi algo difícil compilar a letra pois não temos um texto já escrito pelo que foi necessário recorrer à memória dos elementos do Coral. Esperamos que ainda vá a tempo.

Tim Tim Sou de Trás-os-Montes

1. Tim tim sou de Trás-os-Montes
De Trás-os-Montes terra bravia
Num trono estou colocado
Só vejo Serras e Penadias

Refrão

Tim Tim olaré Tim Tim
Você diz que não eu digo que sim
Ao romper da bela aurora
Toda a gente canta pela estrada fora

2. Adeus que me vou embora
Se não demoro porque é que chora
Não vale a pena chorar
Que bem depresssa hei-de voltar

Refrão

3. Tim tim sou de Trás-os-Montes
De Trás-os-Montes, terra sem par
Bem cobertinha de neve
É como a noiva que se vai casar


--
Coral Brigantino
Rua Calouste Gulbenkian
(Antiga Biblioteca Infantil)
5300-020 Bragança
http://coralbrigantino.no.sapo.pt
coral.brigantino@sapo.pt


Vou já enviar para Espanha e espero bem a tempo do filho da Raquel e do nosso compatriota nascido em Chacim, fazer o trabalho para a escola e que tenha uma nota excelente graças à amabilidade deste Grupo Coral.

.........................//............................

Versão gravada pelo Grupo de Cantares de Salto, Montalegre, durante a década de 90.
Canta-se a 1º estrofe como já apresentada seguida do refrão tal qual.
As estrofes são as seguintes (e são um verdadeiro tributo à riqueza étnica-cultural destas nossas serranias):

tim tim, sou de trás-os-montes
de trás-os montes terra do norte
quando vem a trovoada,
a Deus entrego a minha sorte

tim tim, sou de trás-os-montes
de trás-os montes terra fragosa
vem o sol, vem a geada,
fio morena, bem mais formosa

tim tim, sou de trás-os-montes
de trás-os montes com o luar
bem cobertinha de neve
sou uma noiva que vai casar

tim tim, sou de trás-os-montes
só vejo serras e penedia
vindimar no Alto Douro
guardar ovelhas na Terra Fria.

  • Agradeço a colaboração de Domingos Fontoura Fernandes pela apresentação desta versão.
  • 29.5.06

    Um pedido

    Se alguém souber toda a letra desta cantiga (está num comentário de um tema atrasado do Rumo ao Sul), agradecia que a colocasse neste tema para que possa ser enviada, já pesquisei e consultei o cancioneiro transmontano mas nada encontrei.

    Obrigado desde já!

    Hola, eo so do Madrid, meu marido é de Chacim (Tras-os-montes). Penso que tu blog é muito interesante e podes ajudar-me.

    Eo preciso el texto de una cantiga que começa assim (mais o menos) :

    "Eo so de Trasosmontes,
    de trasosmontes tierra bravia
    no vale la pena chorar
    porque mais pronto he de voltar..."

    ¿Alguém a conhoce.? Eo a preciso para um trabalho do meu filho. É muito urgente

    Obrigado

    Perdoar meu português

    Raquel

    24.5.06

    Por Terras e Paisagens Transmontanas



     Marius deambula pela cidade de Vila Real. Dirige o seu cavalo para a freguesia de Panóias.

     D.Henrique dera foral a Constantim de Panóias. Outrora, tudo em volta era território de Panóias, limitado pelos seus castros e pelos rios Tua, Tinhela, Teixeira e Douro. Murça de Panóias ou Vila Real de Panóias como virá ser conhecida, teve uma posição dominante administrativamente, militar e religiosa, tendo os Romanos explorados a sul, minérios e vinhas encontrando-se ainda vestígios dessa passagem no concelho de Régua, no lugar de Covelinhas e no Castellum da Fonte do Milho.



     O Santuário de Panóias (monumento durante muitos anos designado por Fragas de Panóias) foi construído entre os finais do século II e os inícios do século III d. C. D. Dinis disse – «e esta Vila Real seja a cabeça de toda a Panóia». As acrópoles do mundo pagão seriam formadas por sete pedras-santuárias. Talhadas com várias cavidades, de diversos tamanhos, bem como escadas de acesso estas fragas serviam para sacrifícios dedicados aos deuses como se pode ler numa inscrição:

      «Geno Caio Calpurnio Rufino, varão consular, dedicou este Lago eterno, com este templo em que se queimam as vitimas, aos deuses e às deusas, e a todas as divindades, e aos Lapitas.

     Séculos mais tarde, à falta de Santuários deste tipo, outras vítimas eram queimadas em fogueiras, presas a barrotes em nome da Fé.

     Marius dirige o seu cavalo para outras paragens. Não consegue conceber que para agradar a deuses, sejam eles quais forem, seja necessário oferecer o sangue de inocentes, mas ínvios são os desígnios do Homem.

     Bisalhães

      - Conhecida pela sua olaria de barro negro, os oleiros, hoje cada vez mais raros, iam buscar o barro a Parada de Cunhos. A venda do artesanato era feita nas feiras do distrito para onde iam a pé ou de jerico. Hoje é vê-los nas encostas do Marão para turista comprar o seu produto e é devido a essa incerteza de venda que o artesanato português cada vez mais se transforma em peças «Made in… qualquer coisa.». Os jovens não se sentem atraídos e as mãos que manejavam com perícia o barro vão envelhecendo e outras mais novas não                                                     tomam o seu lugar.

      A Tuna de Bisalhães, com os seus violinos, guitarras e bandolins vão tocando de ouvido o que muitos nem de pauta o conseguem.

     Vamos cavalito hoje o teu dono está numa de sentimental.

     «Sai-se daqui munto com de noute p’ra ir à feira e a gente chega com a de noute»

     Assim diziam os habitantes de Lamas de Olo implantada no Parque Natural de Alvão, quando se deslocavam às feiras na vila para venderem os seus produtos agrícolas ou gado.



     Em Lamas de Olo não há pressas e os dias passam devagar. O recolher do gado ao fim do dia é uma das tarefas rurais, a par de muitas outras, como as malhas do centeio, do milho e do feijão, as desfolhadas e as vessadas (em que se prepara a terra para as próximas sementeiras). A matança do porco, a confecção do fumeiro e o fabrico do pão completam o dia-a-dia dos seus habitantes. As suas casas são cobertas de colmo para protecção à neve que ali cai abundantemente, onde o gado rumina por baixo e na parte de cima vive a família. Em dias de chuva, é vê-la correr pela rua nos assentos laterais juntos à pequena janela. E a vida passa bucólica tendo as mamoas e as muas do Alvão como horizonte de um povo isolado mas hospitaleiro.

    O Bispo de Vila Real e o povo de Lamas de Olo


     Um Bispo de Vila Real mostrou interesse em visitar as povoações nas montanhas de difícil acesso. Naquele tempo só a pé ou de cavalo é que se chegava lá. Naquelas aldeias havia muita gente e vivia-se muito bem com estes povos.

     Então o Bispo mandou avisar algumas pessoas de Lamas Olo que ia visitá-las um dia. O automóvel do Bispo só dava para ir até uma povoação chamada Agarês, que ficava ainda longe de Lamas de Olo. Vieram pessoas visitar o Sr. Bispo só até onde ele chegou. Estas pessoas não sabiam do que é que se tratava.

     Disseram-lhes que era um homem que trazia um gorro vermelho na cabeça e mandava nos padres. Quando o carro do Bispo chegou a Agarês, onde a estrada acabava, os habitantes de Lamas de Olo vieram com os jumentos da região.

     Vendo então um destes que saiu do automóvel um homem de gorro vermelho na cabeça, aproximou-se dele e perguntou-lhe assim:

    - Você é que é o ti Bispo?

    - Sou, sim, o Sr. Bispo.

    Então o homem disse assim para o Bispo:

    - Então salte lá para cima dessa burra, que ela arrasta tudo nem que seja o Diabo.



      Ermelo recebeu foral de D. Sancho I. O seu pelourinho e a velha Casa da Câmara é o que resta da sua posição concelhia. Ladeada pelas serras de Mesia e do Marão a vida é vincadamente transmontana mas a proximidade com Mondim de Basto traz já um pouco das influências minhotas no seu folclore. Quem quiser ir até Fisgas de Ermelo tem que ter atenção redobrada, dado tratar-se de uma zona perigosa, onde já ocorreram alguns acidentes. A região do Alvão é especialmente fria, mesmo durante a Primavera. Em alturas de mau tempo, com chuva e neve, não se deve aventurar por locais que se desconhece.

     Assim sendo e para aqueles que ”viajam” através daquilo que este escriba aqui escreve poderão fazê-lo virtualmente:

    Fisgas de Ermelo

    12.4.06

    Gastronomia - Minho



     Marius70 está a percorrer o país mostrando as suas belezas naturais, lendas e tradições. Pensando na gastronomia de cada região, vou procurar mostrar aqui o que melhor se come nos locais por onde Marius passar. Será um Portugal gastronómico, certo de que algumas ideias serão aproveitadas para serem confeccionadas, seja do Minho ao Algarve, nos Açores e na Madeira, ou por esse mundo fora, onde se fala ou vive um português. Que este meu roteiro gastronómico lhes leve os sabores de Portugal!


    Caminha Arroz ou cabidela de lampreia, sável de escabeche e frito, mariscos



    ARROZ DE LAMPREIA

    Ingredientes:

    1 Lampreia;
    2 cebolas;
    2 dl de azeite;
    1 ramo de salsa;
    1 dl de vinho branco;
    1/2 chouriço de carne;
    Sal,
    Pimenta;
    400g de arroz

     Preparação:

     Prepara-se a lampreia e corta-se em bocados e tempera-se com o vinho branco, a salsa, sal e pimenta.

     Faz-se um refogado, pouco puxado, com a cebola e o azeite. Introduz-se a lampreia neste refogado juntamente com o sangue, a salsa e o vinho que serviram para a temperar. Adiciona-se um pouco mais de pimenta e o chouriço cortado às rodelas e deixa-se refogar. Depois, retiram-se os bocados de lampreia e acrescenta-se a calda com água. Esta deve ser em quantidade que perfaça cinco a seis vezes o volume do arroz. Rectifica-se o paladar da calda, deixa-se levantar fervura e junta-se o arroz escolhido mas sem ser lavado. Depois do arroz cozido, o que leva cerca de 20 minutos, introduzem-se os bocados de lampreia e serve-se o arroz imediatamente.

    Lanhelas:Solha seca frita, torta de camarão.

    Solhas Secas à moda de Lanhelas

     (Receita de D. Deolinda Rodrigues - Lanhelas)

     Amanham-se e limpam-se as solhas. Salgam-se com bastante sal e colocam-se num recipiente de um dia para o outro (24 horas). No dia seguinte, retiram-se-lhes todo o sal e demolham-se durante duas horas, aproximadamente. Atam-se aos pares de forma a poderem ser colocadas no pau do fumeiro. Defumam-se lentamente durante dois dias.

     Como cozinhá-las:

     Cozidas: Cozem-se as solhas com batatas e cebolas, após o que se servem numa travessa, bem regadas com um bom azeite e vinagre a gosto.
    Passadas na sertã (forma mais tradicional): Põe-se a sertã com óleo ao lume e logo que esteja quente, passam-se rapidamente as solhas de um lado e de outro. Servem-se bem quentes e com bastante alho. (Esta é a tradição na Festa das Solhas, em Lanhelas).

      V. N. de Cerveira: Debulho de sável, lampreia refogada ou com arroz, tainha assada no forno, biscoitos de milho.



     Debulho de Sável

     Desde tempos remotos que o sável se pesca nas águas do Rio Minho. Em Cerveira os pescadores pescavam sável e as mulheres encarregavam-se de o vender, indo muitas das vezes de porta em porta vendê-lo ás postas. Como na maioria das vezes os compradores só queriam as postas maiores, elas ficavam com as partes mais fracas do sável que eram a cabeça, o rabo, as ovas e as postas pequenas. E, assim surgiu o saboroso Debulho de Sável.

     - O sável deve ser bem escamado e limpo. Em seguida, corta-se a cabeça e o deguladouro (posta junta à cabeça). Junto a este está o fígado ao qual se extrai o fel. Tiram-se as ovas e aproveita-se todo o sangue possível que irá servir para a calda. Cortam-se, também, o rabo e as postas mais pequenas.

     Num recipiente, coloca-se então o debulho, que é composto pela cabeça, deguladouro, o rabo, as postas mais pequenas, as ovas e o fígado. Tempera-se com sal, salsa, louro, pimenta, cravinhos e cobre-se com vinho verde tinto. Deixa-se marinar durante umas horas.

     Num tacho, pica-se uma cebola grande e deita-se um pouco de azeite, vai ao lume e logo que a cebola esteja estalada, adiciona-se um pouco de pimentão, o debulho e a respectiva calda. Cozido o peixe, retira-se para um recipiente ao lado. À calda inicial, junta-se a água necessária para cozer o arroz e uma boa colher de vinagre.

     Assim que o arroz esteja cozido, junta-se o debulho e rectificam-se os temperos.
    Deixa-se repousar uns minutos e serve-se o arroz a fugir pelo prato.

    22.3.06

    Vila Real



     Longe vai já o tempo em que marius começou esta caminhada. Foi em 11-5-2003 ao som de Overture da Ópera Guilherme Tell de Rossini. Estando prevista mais uma mudança, marius vai salvaguardando tudo para nada se perder. Infelizmente há quem pense que destruir é o melhor caminho. Se imperadores e religiões destruíram Bibliotecas inteiras porque não um sapo destruir o que nada lhe custou a fazer?!... Mas destruir aquilo que marius construiu durante este tempo só o próprio marius lhe porá cobro.

    Ó Vila Real alegre
    Província de Trás-Os-Montes
    No dia em que te não vejo
    Meus olhos são duas fontes.


    Vila Real



     Marius olha a cidade adormecida na Meia-Laranja. Já cá estivera e o calor era insuportável. Agora, mais serena, Vila Real, debruçada sobre o Rio Corgo que lhe atravessa a cidade, dominada pelas serras do Alvão e do Marão, teve em D. Dinis o verdadeiro povoador da província transmontana e alto douro, contrariando o velho ditado de que o Marão «não dá palha nem grão». Hoje, completamente florestada, nela se situando as Pousadas Nacional de S. Gonçalo e do Mesio.

     Inicialmente chamada de Vila Real de Panóias (ou Panonias), era na Baixa Idade Média, o centro de um vasto território, onde o culto aos deuses e o poderio militar, como não poderia deixar de ser, era romano.

     Saíram os romanos, vieram os árabes e Vila Real só voltou a ter importância relevante após a construção de uma muralha e de um castelo na «vila velha» sobre o promontório do Rio Corgo, mas embora bem construída não ficou pedra sobre pedra no século XIX.

     Segundo rezam as crónicas em Vila Real teria nascido Diogo Cão, descobridor de Angola, em cuja cidade de Luanda tinha uma estátua mas que os ventos revolucionários mandaram a mesma para as urtigas.

    Diogo Cão


     A bela fachada da Capela Nova, a Igreja do antigo Convento de S. Domingos, hoje Sé-Catedral, as janelas geminadas manuelinas do antigo Palácio dos Marqueses de Vila Real, o famoso Solar de Mateus (vai um Rosé?), obra magnífica de Nasoni, possuindo uma belíssima fachada cheia de pináculos, sempre reflectida num lago rectangular, e um interior repleto de preciosidades que se pode visitar, assim como os jardins românticos e deslumbrantes.

    Casa Mateus


     Marius revisita a bela frontaria dos Paços do Concelho e o Pelourinho. Vai deambulando pelos jardins e pelas paisagens magníficas sobre o rio Corgo admirando a terra lavrada dos socalcos e onde casas se confundem com a vegetação.

     Vila Real foi a primeira cidade portuguesa a ser iluminada por energia eléctrica em 1895. Outros motivos de interesse são as Pontes de Piscais, a de Santa Margarida, onde no antigamente ali as lavadeiras lavavam e punham a corar a roupa, (será que a tradição ainda é o que era?... tenho as minhas dúvidas.), a ponte de Almodena e a ponte romana (já cá faltava esta) de Torneiros.

     Camilo Castelo Branco tem uma lápide em sua homenagem na Casa dos Brocas pois este nosso escritor situa cenas de alguns dos seus romances na Torre de Quintela, em Vila Marim.

     As Tunas Populares, os Zés-Pereiras, os famosos barros de Bisalhães (o arroz no forno cozinhado nestes barros típicos é de comer e chorar por mais), a gastronomia; o cabrito assado, o fumeiro, o bacalhau à Espadeiro (companheiro de armas de D. Afonso Henriques), o bacalhau com batatas a murro, os toucinhos do céu, os covilhetes, os pitos e o sarrabulho doce fazem por certo com que o viajante não falte entre 27 a 29 de Junho à tradicional Feira de S. Pedro.

     Vou já apontar na agenda para não me esquecer.

     Ir a Vila Real, aos seus eventos desportivos, às suas feiras de artesanato, descobrir o seu património artístico, cultural e histórico é como voltar no tempo mas também saber que o futuro é já ali, e por certo que Vila Real é, sem sombras de dúvidas (embora com pequenos problemas conforme li em apontamentos feitos por quem conhece melhor aquilo do que marius), uma cidade a visitar.

     Mas, como sucedeu com marius quando lá foi, na altura do calor não se esqueça de levar uma garrafa de água bem fresquinha pois a garrafa que marius levava no alforge, depois de aberta, servia bem para cozer um ovo.


    3.3.06

    Por Pedras medicinais e relógios de sol



      Marius segue por um magnífico bosque a caminho de Pedras Salgadas. Questiona-se se vale a pena continuar esta caminhada. Começada já há muito tempo ela nunca terá fim. A procura constante dos caminhos a percorrer, o querer mostrar este Portugal de todos, as tradições, os costumes e a vivência deste povo tem os seus custos e o tempo não abunda. Um trabalho solitário. Marius nunca mais vê a velha mulemba do outro lado do Atlântico onde descansará. Querer é poder, vamos lá companheiros desta aventura, vamos continuar a jornada pois tudo vale a pena...



      Conhecida pela sua famosa água, em Pedras Salgadas veranearam os últimos reis de Portugal, especialmente D. Carlos. Como Pedras não são só as termas podemos ir até às Romanas, ver a ponte e os seus mosaicos romanos, a Bornes de Aguiar, ao Penedo Gigante, ao Alto do Minhéu, às ruínas dolméticas do Alvão, ao Castelo de Aguiar e à Padrela. No guia turístico diz que se para se ver as capelas do Senhor do Extremo e o Dolmen do Alto da Povoação tem que se ir de jeep. Espero que se não tiver jeep se possa ir de cavalo, senão… estou feito! Grande ajuda que os guias turísticos nos dão.



      Ribeira de Pena. Ali viveu e casou Camilo Castelo Branco. Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição. Com 16 anos enamorou-se, em Ribeira de Pena, de Joaquina Pereira de França com quem casou. Entre amores e desamores, até uma freira, Isabel Mourão, não escapou a este D. Juan à portuguesa. Depois, a mulher fatal, Ana Plácido.



      Ribeira de Pena teve foral em 1331. O Templo dedicado a Nossa Senhora da Guia, com um agradável miradouro, e a Igreja Paroquial de S. Salvador, mandada edificar por um emigrante que prometera ali fazer «uma igreja como outra não houvesse da Ponte de Caves para cima e da terra do Alvão para baixo», nada humilde este nosso emigrante.



      Os Solares, a rocha esculpida de Lamelas, a pedra cavalar de Viela, castros e dólmenes, os relógios de sol e a paisagem que vai do verde da vegetação até às águas calmas do rio Tâmega, sem esquecer o artesanato na povoação de Limões de tapetes e colchas de linho, fazem desta zona um roteiro de aprazível passeio para o turista que a visita.